por Fernando Andrade
Não podemos denominar uma manada de rinocerontes de um grupo social embora a palavra manada comporte algumas cintilações sobre pertencimento ou seguir um certo coletivo, no caso de rinocerontes, pois preferem ser solitários. Esta questão intrínseca entre jeito individual e o modo como ele pode ser usada numa formação conjuntivada espraia por muitos lugares que nem só o mundo animal. A repetição de um ato ou escolha muitas vezes é camuflada pelo fato de agirmos em grupo sendo a ação compartilhada e apoiada pelo outros. Assim como a doença ou a chaga, parte de um ponto de vista sobre uma extrema singularidade do eu? não se pode estar combalido sob uma enfermidade num coletivo embora saibamos que existem enfermidades psíquicas que acometem uma certa coletividade.
Partindo destes dois postulados colocaremos a força interna como um vetor que empuxa uma certa territorialização do eu no entorno, se pensarmos que tais elementos são o ponto de (localização) do corpo humano em estados duais. Assim como a enfermidade no homem terá algum tipo de rebatimento diferente em um animal, do ponto de vista da doença, se sacrifica um animal quando está com um doença incurável, mas ao homem do ponto de vista ético, tais procedimentos, inclusive a eutanásia, se tornam ignóbeis. A literatura pode ou deve atravessar todas estas fronteiras entre relações que aferem o corpo estatuto de saúde ou doença; ela trafega entre tantas posições humanas quanto à posições de animalidade, que atravessam o corpo biológico de forma metaforizada.
A poeta Raquel Gaio em seu primeiro livro, Das chagas que você não consegue deter ou a manada de rinocerontes que te atravessam pela manhã, ( Editora Patuá) imbrica discursos entre uma forma de ser ou estar no mundo pegando o lastro das manhãs (ponto de (re)começo?) com certas imagens do fabulário de uma animalidade latente para cruzar uma fronteira de pertencimento em sua postura como humana, mulher, atravessando, linguagens pelo universo poético para falar da localidade do eu na fala de uma pessoa em fricção. A poeta não se adere ao peso das rimas musicais para dialetizar seu processo interno, a combustão se dá muito mais, por meio de imagens viscerais que emaranham um cotidiano que explode em suas frinchas e fendas para irromper numa beleza bruta, abrupta da potência poética do individual.
Dividido em quatro partes que relacionam certa função metaforizada da doença aqui alcunhando para não só o território bio-médico, e sim com um domínio sobre outras funcionalidades de imagens associativas. A força poética estaria na figura do Rinoceronte que tem parece uma visão sofrível mas possui uma pele extremamente grossa. Pelo verso da primeira estrofe parece que sim. Ele o rinoceronte guarda no ventre todas as promessas não compridas ele tem o bucho róseo, cheio de começos ( rubrica minhas manhãs).
Be the first to comment