[Fernando Andrade –
jornalista, escritor e crítico literário]
Haverá doação na sombra do ser? A raiz de uma árvore é milenar, mas o que aparece na superfície como seus frutos, apodrecem ao sabor das estações. Amadurecer e apodrecer são fases de um ciclo. Não quero entrar neste discussão ancestral sobre este lugar de fala? do conhecimento onde a natureza parece que se dividiu do sagrado sendo ela mesma humana e por conseguinte corrompida.
Mas ao contrário do discurso religioso, a veia poética que dá no braço da linguagem, das palavras, da poeta, ela está matizada à sombra, no lusco-fusco entre o dia e noite. Ela é passagem entre estados duais do ser. Portanto quando leio o livro À sombra do iluminado, da poeta Pollyanna Furtado pela editora 7 letras e que é finalista do Jabuti de 2018, na poesia, vejo esta posição da dor e no desconsolo de existir perante talvez nem tanto a pena do sofrer, mas sim à uma condição alienante? do homem perante o absurdo da vida.
Modelando a linguagem entre zonas escuras da interação ao outro, ela não emerge num só desespero louvável e prazeroso como se purgar-se da dor fosse apenas mais exílio de si mesma. Pollyanna através de uma linguagem extremamente cuidada entre luz & sombras revela um certo teor romântico em lidar com aspectos que o humano traria para a lida relacional da existência. Seus seres que estão em busca do contato experiencial, mas não tolhem o resultado ruim de uma paridade de alteridade que todo relacionar pode ter em um aspecto de apodrecimento, pois o corpo é tão “velho” quanto à perda de jovialidade e maciez quando uma maçã numa árvore que “queda” quando está excessivamente concentrada.
Cotação: ótimo
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