Cama desfeita – conto de Fernando Andrade

 

 

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CAMA DESFEITA

 

Levantou da cama e não viu sua mulher. Tinha a sensação que ao dormir tinha dado um beijo de boa noite nela, e o sonho que teve no meio da madrugada. Que percorria um enorme corredor com portas de ambos os lados, mas sem numeração. Um longo corredor. “Só me acordem se meu marido ligar”. “O senhor se chama Emilio”? Não meu nome é Fernando. “O senhor veio ao hotel errado”. Levanta e vai aos outros aposentos, nenhum sinal da sua esposa. “Ela dormiu comigo ontem”. Encontra na mesa da sala onde tem um abajur ligado, “Eu deixei este abajur desligado antes de dormir”. O celular dela está ligado e com a bateria quase arriada. Liga para o número que está no celular. “Hotel Bem obséquio a sua disposição”. “ Existe uma hóspede chamada Verônica no hotel?”  “Um minuto que vamos ver as fichas de inscrição”. “Não, mas espere, temos uma Mônica no quarto 206”. “O senhor quer falar com ela ”?“ Não ela não ia dar esse nome”. “Obrigado”. Vai ao banheiro e encontra a calcinha que sua esposa tinha deitado para dormir. Eu lembro de nosso sexo – ela vindo ao banheiro. A toalha pendurada; molhada em cima do chuveiro.

 “Como assim ela tomou banho de madrugada para ir aonde?”.

 Toca o telefone na sala e sai correndo para atender. O senhor é o Fernando? Há uma moça desacordada aqui no hotel, e olhamos a bolsa dela e vimos o telefone daí. O nome dela parece Mônica. Há indícios de que ela teve uma overdose. “Minha mulher chama-se Verônica”. Achamos um papel com o seguinte escrito ver Mônica. “Essa moça foi minha primeira esposa e está morta”. “Senhor não é possível. “A moça que senhor diz estar morta veio para cá”. Estou indo para ai já. Saiu e vestiu uma roupa às pressas, pegando um táxi para o hotel. “Tome a chave”. Foi passando pelos quartos e via que nenhum tinha numeração; exatamente como no seu sonho. Parou na frente de um quarto, viu uma claridade por baixo da porta. Entrou e percebeu a cama desfeita. O relógio dela estava na cabeceira; o ponteiro parado nas duas da madrugada. Foi ao banheiro e ali viu dentro do chuveiro uma mulher. Estava nua e parecia desmaiada. No braço direito uma pulseira com o nome Verônica. Era sua esposa. Olhou e encontrou a mesma toalha que em seu banheiro estava molhada, agora se encontrava seca. Verônica ao vê-lo disse

 “Estou grávida de um filho que você nunca terá com ela”. 

 

 

 

 

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Fernando Andrade, jornalista, poeta e crítico de literatura. Faz parte do Coletivo de Arte Caneta Lente e Pincel. Participa também do coletivo Clube de leitura onde tem dois contos em coletâneas: Quadris no volume 3 e Canteiro no volume 4 do Clube da leitura. Colaborador no Portal Ambrosia realizando entrevistas com escritores e escrevendo resenhas de livros. Tem dois livros de poesia pela editora Oito e Meio, Lacan Por Câmeras Cinematográficas e Poemoemetria , e Enclave ( poemas) pela Editora Patuá. Seu poema “A cidade é um corpo” participou da exposição Poesia agora em Salvador e no Rio de Janeiro. Lançou em 2018 o seu quarto livro de poemas A perpetuação da espécie,  Editora Penalux.

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