“vertigem-cinema-cinza” – três poemas de leonardo mAthias

 

 

 

A história do medo

“(…) é preciso aprender a viver como a maioria das pessoas (…)”

Pepe Mujica

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“(…)
Pela janela,
Vi os planetas se ajuntando
Tal como as folhas
Girando no vento.
Vi a noite chegando,
A passos largos, como a cor dos pesados pinhões.
E tive medo.
E então lembrei o grito dos pavões.”

Wallace Stevens

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num tempo em que todxs
falam sem respirar
frágil é o compromisso
com esse mesmo
,e rarefeito, ar:

em tempos de tão violenta
, e humana, revolta
pode-se
, ainda que de modo árduo,
optar revoltar-se
abarcando amor ao feio

um tempo onde espaço é disputa,
(e há de se dividir)
em todos os tempos,
o espaço:

tudo num mesmo espaço
o espaço todo
que é o outro
e é o mesmo
espaço outro:

nossa casa
, em sua amplitude suficiente,
deve ensinar-nos medir
na aberturados braços:

 

 

 

 

A história do erro ou Ash

“(…)do que  a lebre torna visível quando faz sua toca, ela se enterra.
É isso que faz a lebre, encarnar-se fortemente dentro da terra.
Coisa que o homem só pode realizar radicalmente por meio de seu pensamento. (…)”

Joseph Beuys

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“um olhar bovino treinado para devolver ao mundo o mínimo insulto”

Raquel Nobre Guerra

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cabe ao abismo o mesmo corte/
– vertigem-cinema-cinza –

seus olhos ocultos
habitam um ciclo oco.

 

 

 

 

cotovelo

“(…) aquilo se atrevia a não significar nada e, com isso, exigia tudo da gente (…)”

Miranda July

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“(…) em muito não falam sobre o momento do encontro,
mas sobre o que há entre o impulso que leva ao encontro e sua realização (…)”

Aline Rocha

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toda dobra
guarda em si
um susto

do projétil já deformado
nos resta o desconhecido

especular não nos prepara
jamais estaremos preparados:
– nunca-nunca –

administrando elos talvez possamos
, infimamente,
habitar outros prismas
– o de fora dos corpos, das páginas e seus ópios –

depois de atingidos
, somos nós eles mesmos,
e nos arrependemos não
, ou nem sequer entendemos,
seguimos talvez
numa velocidade outra

, que ainda:
, as vezes,
as coisas sejam
mais velozes
na curva.

 

 

 

leonardo MAthias atua em literatura, artes visuais, design e tatuagem.

Apresentou As Janelas de Rilke (2012, proAC), Vazios Volúveis (2014, Artefato Galeria), e A mecânica do livro no espaço, dividido em três temporadas: piloto (Casa da Palavra, 2016), segundo movimento (Biblioteca Alceu Amoroso Lima, 2017) e desmonte (Patuscada café & livraria, 2017).

Participou de salões e mostras como Salão de Fortaleza, SARP, 25 anos MAC-RS, entre outros.

No setor editorial ilustrou e assinou projetos gráficos de mais de 400 títulos em parceria com diversas editoras.

Colaborou com veículos como Folha de São Paulo, Estado de São Paulo, Zupi Magazine, ente outros.

Publicou “de pé” (2011), “(…) ou reticências entre parênteses” (2015, bolsa do MinC) e “exercício cinza” (2017) ambos pela Editora Patuá.

Atualmente se dedica ao estudo experimental da corporeidade do livro e suas possibilidades.

 

 

 

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