por Fernando Andrade – jornalista e crítico literária
Interessante que a palavra pôr de sol tenha uma relação quase imagética quanto poética. Imagino uma mão colocando o sol no devido lugar de descanso atrás dos montes ou de uma cadeia de serra. Que sua acepção lá por baixo do sentido por baixo da moita, seja abaixar, descansar, se esconder da cara aberta do dia.
Esta relação em que palavras parecem que se escondem como fugidas da luz ,da significação, ocultando seus sentidos, parece ser a trilha dos poetas que fazem ou mágica ou malabarismos com as percepções ou acepções das palavras.
Mas o poema não pui como uma renda ou uma fazenda que nunca se esgarçou no seu sen t(i)ecido. O poema põe. O poema põe fé, o poema coa café. Diremos aos puristas que o poema é a moda da viola; a miscigenação das palavras cantadas ou toadas em ritmo, estro(f)te, e canção.
Como um jogo que não se dialetiza perante peças que nunca são aleatórias entre si, como a letra quando casada à canção. Trabalhar a métrica não só em largura e comprimento mas no horizonte do olhar em absorver o entorno, se ao poeta é um (de)morador de absorções,de lugares, de encontros, de afetos.
Assim pondo a gira para rodar girando a rotação do sol do depoente da linguagem ao poente das palavras, onde cintilam mais.
Paulo Cesar Pinheiro, poeta , compositor, romancista e teatrólogo, em seu novo livro Poemúsica, (editora 7 letras) cria uma certa espessura da palavra aglutinada alocada em poética. Em traçado de poer, de cozi(r)nhar, de costurar um tecido tanto de experiências tramadas e traduzidas pela primeira parte em um cancioneiro sobre relações afetantes num campo mais consensual à natureza em seus aspectos com a afetividade do poeta com o entorno.
Texto do autor Paulo Cesar Pinheiro:
Poemétrica, a primeira parte seria o campo das formas, dos espaços abertos, da horizontalidade do olhar, das coisas consumadas ou consumidas, pelos sentidos do corpo em ação, tanto num envolvimento buliçoso com um pôr do sol quanto numa relação amorosa e afetiva.
Paulo na segunda parte chamada Poemágica efetua no campo da semântica poética aquilo que certos trovadores equalizam dentro de certos contextos poéticos, de uma radicalização da estética onde o labor da uso maquínico da palavra é absorvida pelo animalismo ou aglutinação dos corpos numa espécie de canibalismo-textual.
Embebido numa métrica mais diversificada de temas e conteúdos, o poeta põe as palavras para ir além das suas físicas (de)composições. Cria devires como ouvires de palavras, como uma sutil alquimia de palavras encorporadas pelo corpo de outras acepções ou concepções de sentidos. Aqui o poema ganha ares de metamorfose mudando a casca mudando o casulo de lagarta para borboleta, o aspecto visual brilha com entorses aglutinantes.
Na terceira parte Poemística, a relação do poeta se permeia mais para viés simbólico, onde as relações entre matéria corpo e real passam pela depuração da mente, da absorção do pensamento com o entrelaçamento do conhecimento através da experiência do real. O eu que elabora a teoria é o eu mais próximo de uma relação em sintonia com a natureza, aqui as palavras podem ser apenas um elo de pertencimento pela prática e pela experiência com o entorno.
cotação: excelente
FERNANDO ANDRADE, jornalista, poeta e crítico de literatura. Faz parte do Coletivo de Arte Caneta Lente e Pincel. Participa também do coletivo Clube de leitura onde tem dois contos em coletâneas: Quadris no volume 3 e Canteiro no volume 4 do Clube da leitura. Colaborador na revista digital Literatura & Fechadura realizando entrevistas com escritores e escrevendo resenhas de livros. Tem dois livros de poesia pela editora Oito e Meio, Lacan Por Câmeras Cinematográficas e Poemometria , e Enclave ( poemas) pela Editora Patuá. Seu poema “A cidade é um corpo” participou da exposição Poesia agora em Salvador e no Rio de Janeiro. Lançou em 2018 o seu quarto livro de poemas A perpetuação da espécie, Editora Penalux.
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