Por Ana Yanca da Costa Maciel*
É preciso que haja sol, nem que seja dentro da noite. É preciso olhar sob a “pele de rios” e palavras, urrar o poema para além do muro que atravessa boquilíngua e ouvidos em tempo de barbárie. O tempo do poema nem sempre é só o individual, do eu-lírico. O tempo do poema fala para todos porque é a ausência de tempo, por isto se faz sempre presente.
Nydia Bonetti cria a flor de múltiplas dobras que se abre na imagem retida na palavra, um ato em sagrada suspensão. Os poemas não estão para serem contemplados, essa imagem retida na palavra quer ser adentrada pelo outro, ela germina silenciosa pronta para eclodir; isto é possível (não só pelo poeta mas) pela fome do leitor, a Poeta diz: “a quem souber cuidar/ou qualquer coisa assim/ – qualquer coisa”.
A Poeta nos convida olhar (um olhar que também é toque) a flor sem forma, lamber o verso de uma “flor em chamas”, flor qualquer que brota no lodo dos muros e atravessa pedras para nos comunicar que a fronteira não existe porque é fluída, é inventada (Wally me disse). Por isso, hoje quero falar do Sumi-ê, “solidão sem asa” e, na medida em que comove, se alastra tal qual rizoma, sem centro, com as raízes de fora, expostas.
O que eu quero à noite é isto: um sol nascendo na parede do quarto, uma flor qualquer rachando o asfalto e, sobretudo, o silêncio para escrutar o outro, o silêncio de Sumi-ê.
*Ana Yanca Maciel é graduada na área de Letras Português, atualmente é pesquisadora no Mestrado em Estudos Literários pela Universidade Federal de Rondônia, UNIR, Brasil.
|
Be the first to comment