atemporal
peço perdão toda vez que fecho os olhos
e consigo me desfazer da realidade
quando o ódio adormece
e os pássaros se fundem em metal pesado
e tinta amarela
quando a cantoria habitual
torna-se um ruído cortante
impossível de ser digerido
e meu pai incomodado desce da cruz
para discutirmos sobre aquele aluguel
que atrasei quando tinha
nove anos
de absolutamente,
nada.
uma verdade
tudo em mim soa assim
desagradável, sim
mas vou mentir
pra mim? seguir assim, eu
por mim desejo que meu fim
seja assim, nesta linha verdadeira
eu por mim e minha vida,
inteira.
vivas criaturas
no ônibus,
você escuta a conversa
e acha aceitável.
dois seres autênticos
um assunto
plausível
um ponto de vista
interessante
e então você se vira
e confirma: os pés ainda
não alcançam
ao chão.
Eduard Traste descobriu que não tinha salvação. Desde então vem destilando os necessários pingos de vida para seguir em frente, de seus escritos e outros tragos. Escreve no projeto www.estrAbismo.net, e tem materiais publicados nas revistas: Alagunas, Escambau, LiteraLivre, Philos, Ruido Manifesto e Subversa.
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