As águas simbólicas de Paulo Rodrigues

 

A água tem uma simbologia muito forte em todas as civilizações e povos. Para a cultura cristã, no batismo, ele significa morte/renascimento. Morte para a vida antiga e renascimento para o novo, para a nova vida.

Na psicanálise ela remete ao inconsciente, submundo psíquico que rege nossas ações e que muitas vezes não conseguimos perceber, pois notamos apenas a ponta do iceberg.  Os compartimentos mais profundos da mente humana são mistérios, labirintos… Nem só Freud a poesia também se torna uma forma de acesso aos lugares mais ocultos de nossa mente.

O novo livro de Paulo Rodrigues, Escombros de ninguém, mostra isso. A obra é um salto no mundo submerso de cada um de nós. Ao longo dos 46 poemas que compõem o livro, Rodrigues à tona em sua poética, uma renovação de seu próprio fazer literário. O poeta vem tocando na abissalidade humana e refletindo a parte submersa do ser, o mundo escondido na interioridade, como percebemos no seguinte fragmento: “a solidão em cliques, engole pedaços/ da minha ao abismo. (p.36)

Paulo revisita a memória com um mergulho poético em seu próprio rio existencial e também na história humana. Ele faz emergir os segredos escritos nas paredes de suas lembranças de entro na casa/ que meu pai desenhou,/não reconheço as marcas na parede./ o corredor é escuro./ guarda as sombras/ de um homem/ que cortou o desespero,/ sem revolta. (p.66).

Também percorre as chagas abertas na epiderme de nossa história humana: “a carne vendida/ em Hiroshima/ e um chacal/ que não conhece/ a memória. (p.51).

Para complementar estas impressões sobre o trabalho de Rodrigues, trago trechos de um texto que ainda não publiquei e em que faço menção ao autor na poesia contemporânea produzida em Santa Inês – MA: “Sua produção vem numa crescente, sendo reinventada, mergulhando nos labirintos da essência humana e fazendo os homens vomitarem suas angústias.

Paulo é dono de uma pena que parece um bisturi, abre cortes profundos no âmago da palavra e faz a poesia correr como sangue na folha do papel. Seus últimos livros mostram isso.”

Os últimos de livros do autor nos convidam para um “tibungo” em nosso inconsciente coletivo. Paulo coloca a poesia no divã e com sua pena poético-freudiana, lança os leitores em seus escombros.

 

 

 

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Evilásio Júnior, filho de Evilásio Alves de Morais e Lusia Rosa Cunha Morais; nascido em Santa Inês -MA, em 10/09/1984; acadêmico do curso de Letras da Universidade Estadual do Maranhão – Campus Santa Inês. Foi descoberto para a produção literária por uma professora de Língua Portuguesa, no Ensino Médio, aprendeu a importância de vestir com as letras a alma nua do ser humano.
Tem produções publicadas em antologias no Brasil, como: Antologia de Prosadores e Poetas Brasileiros Contemporâneos; Conto Natalino: o último conto do ano, Vai um expresso aí?; Antologia Criticartes; O poeta é um fingidor; Contos de Amor e dor; I Coletânea Poética Da Sociedade De Cultura Latina Do Brasil- construindo pontes Em comemoração aos 30 anos de fundação da SCLB e Cem Poemas, Cem Mil Sonhos.

 

 

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This Article Has 1 Comment
  1. José Vieira Reply

    Ainda não li o livro de Paulo Rodrigues, mas já o conheço por esta bela resenha de mais um conterrâneo e das letras que não conheço. Agora estou ansioso para conhecer o livro, pois trata de um tema que me atrai bastante, que é o mergulho no interior da mente humana. Um grande abraço Evilásio, espero conhecê-lo em breve.

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