Livro de contos O beco do rato tematiza o humano na teia da urbe massificada.

 

O beco do rato nome dado ao primeiro livro de contos do escritor José Petrola, editora Jaguatirica, não é um lugar, propriamente onde sujeitos vão se afogar em bebidas ou mulheres. Talvez seja uma metáfora para sua própria criação. Como um laboratório não farmacêutico para a ficção. Uma tarja preta usada em casos de atravessamentos e conflitos internos. O que vejo é que Petrola fez um livro sobre a criação literária camuflada de viés social. Há inúmeros escritores que frisam e associam o beco do rato à escrita. Não só apenas em um conto, outros fazem referência a este quase mitológico lugar.

Se Freud dizia que temos um princípio da realidade pela frente a nos amarrar à vida, um categórico não se desvie do trajeto da existência, a vida é dura já dizia Selton Melo em Cheiro do Ralo. Não sei se há ironia no tom de voz narrativa do autor, mas ele faz uma ciranda de fracassos e ruínas sobre o primeiro mandamento do homem-macho. Não vagabunde seu tempo, Trabalhe desordenadamente. Mas é este homem macho que Petrola fala que em certas frequências, ele parece não está falando de apenas um personagem, sua escrita atravessa uma sinal quase de rádio onde ele sintoniza homens em desespero com sua aptidão ou sua inabilidade em ser moldável de acordo com as funções sociais do trabalho.

Aqui o escapismo funciona quase como ou uma paródia da indústria farmacêutica, com seus remédios tranquilizantes ou seus antidepressivos, mas também, numa via de quase transgressão pela capacidade de autorizar um cunho cognitivo sobre suas emoções. É como se cada personagem de José se humanizasse pela fabulação.

Há ao mesmo tempo, uma sátira ao mundo corporativo do trabalho. O encaixe do perfil laboratorial do que se pode acoplar dentro das mil possibilidades “construtivas” do emprego. Eu sou formado em Comunicação, não faço planilhas. Há também muito de um isolamento entre homens e mulheres que deixaram de ter empatia, ou até forjam uma empatia através de certo misticismo. Se o humano empedra numa cidade como Rio de janeiro, se o suicídio é uma forma de anular o eu numa cidade embotada e sem espaços para o olhar o nada, e não só concreto.
O que nós sobra, de nossa humanidade?

cotação: ótimo

 

afernandoab 300x300 - Livro de contos O beco do rato tematiza o humano na teia da urbe massificada.FERNANDO ANDRADE, jornalista, poeta e crítico de literatura. Faz parte do Coletivo de Arte Caneta Lente e Pincel. Participa também do coletivo Clube de leitura onde tem dois contos em coletâneas: Quadris no volume 3 e Canteiro no volume 4 do Clube da leitura. Colaborador no Portal Ambrosia realizando entrevistas com escritores e escrevendo resenhas de livros. Tem dois livros de poesia pela editora Oito e Meio, Lacan Por Câmeras Cinematográficas e Poemometria, e Enclave (poemas) pela Editora Patuá. Seu poema “A cidade é um corpo” participou da exposição Poesia agora em Salvador e no Rio de Janeiro. Lançou em 2018 o seu quarto livro de poemas A perpetuação da espécie,  Editora Penalux.

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