Fernando Andrade – Não há um linha narrativa ou de ritmo nos seus poemas. Você quebra o ritmo de certa forma! Há sim, um espaço como um lacuna semântica onde o leitor quase visualiza um espaço criativo de imagens (suas) muito distanciadas de um contexto de corpo ou enredo como um tropos único do poema. É incrível pois eles fazem pleno sentido nestes deslocamentos em que uma frase melódica vai se ligar ao seu fim com um ideia outra até em outro lugar ( referência. Fale disso.
Jean Narciso – Na minha visão a força da palavra está em revestir num jogo de luz e sombra, nos levando por intermédio da poesia a outros domínios, outros ares reflexivos.
O meu olhar capta o corpo vernacular do poema carregando sentido e beleza nas asas da metáfora. Quando escrevo há muito corte, vários ensaios no intuito de ouvir e dizer melhor determinadas coisas. O trabalho de escrever é exaustivo, não se encerra na primeira escrita.
Há um sino inconsciente dentro de mim que me avisa quando o poema está “completo”.
Fernando Andrade – A posição centrada do olhar do poeta sobre sua criação, querendo ser uno em sua obra, em sua medida semântica, é como se você olhasse o poema por pontos distintos de um lugar ou referência. Como é seu processo interno de imagens tendo em vista o ponto que você nunca está observando o poema da mesma latitude ou quadrante?
Jean Narciso – Fiz uma escolha literária pela concisão em detrimento do prosaico. Alcançar o máximo com o mínimo de palavras.
A imagem é o grande clarão que ilumina a vereda dos bons textos, por isso a persigo, sem no entanto saber se logro algum êxito nessa procura. Deixo a possibilidade de resposta para os leitores.
Escrever para mim sempre foi um ato de locomover-se no campo da imaginação sem tirar as lâmpadas que clareiam os pés da realidade.
No meu caso o fato e o imaginado não podem estar tão distantes, um do outro, que não possam ser avistar.
A poesia por conseguinte é um comunicante da condição existencial, registro de um tempo.
Fernando Andrade – Você tem um site de literatura chamado Literatura e fechadura, onde você é o editor. Conte um pouco sobre ele?
Jean Narciso – A Revista Literatura & Fechadura nasceu como blog pessoal no início de 2017, com o passar do tempo vi a urgência de criar um espaço para escritores contemporâneos, este novo lugar apareceu em janeiro de 2018. A Fechadura tem como princípio divulgar autores que produzem textos de reconhecida qualidade, neste período de 1 ano, já acumula milhares de acessos. Acredito que ela deve ter alcançado um relevante posto neste pequeno tempo de existência.
Fernando Andrade – Como está para você a produção de poesia hoje em dia? Me fale de linhas ou estéticas. Você criou a pouco tempo um concurso literário para a publicação de um livro ( primeiro lugar) por uma editora. Como foi esta experiência?
Jean Narciso – O Brasil tem uma diversidade de bons autores nos quatro cantos do seu território, tendo maior visibilidade
os da região Sul e Sudeste. Vejo que a Poesia está num momento bom, há uma excelente difusão por conta das redes sociais.
Descobri neste período de editor ótimos poetas.
Muitos autores adotam uma conversa em poesia, um estilo prosaico, bem distanciados da imagem burilada, a poesia para eles habita no ordinário. São poucos os autores que abraçam a imagem e as suas riquezas. Isso é uma escolha de cada poeta, não faço juízo de valor; e somente o futuro poderá ou não, confinar os nossos nomes nas páginas da História e dizer se fizemos uma boa opção.
A meu ver a poesia atual ainda carrega forte laço com as estéticas da semana de 22, geração de 45 ( João Cabral de Melo Neto) e da Poesia Marginal( Ana Cristina César) e alguns poucos diálogos com o projeto poético dos Concretistas.
Fernando Andrade – Você criou a pouco tempo um concurso literário para a publicação de um livro ( primeiro lugar) por uma editora. Como foi esta experiência?
Jean Narciso – O Prêmio Literatura & Fechadura é uma ramificação da Revista, focando assim na promoção da arte literária.
Na primeira edição do Prêmio contamos com um número relevante de inscritos e recebemos apoio de diversos sites especializados em divulgação de concursos.
A proposição deste certame foi possível porque tive o auxílio do escritor e editor Douglas Oliveira, da Editora Folheando. Ele confiou no projeto e apostou junto comigo nessa ideia.
O vencedor dessa primeira edição foi o poeta Airton Souza, segundo lugar Alfredo Garcia, terceiro lugar Sérgio Bernardo, além de 4 menções honrosas.
Neste ano de 2019 teremos a II edição com algumas novidades.
Este prêmio a meu ver contribui para a valorização de escritores, além de publicar a obra premiada, sem qualquer custo para o primeiro colocado.
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