por Fernando Andrade
Há alguma espera? Em Deus não aparecer para observar apenas a ruína do corpo. Pois se a língua é um pequeno pedaço da onisciência de um “Ser” que aparentemente em seis dias criou não a vida, mas a animalidade, algo como a idade-primêva-ânima. No sétimo dia, doente, exausto, descansou e pensando nos buracos da existência, pode ter criado o verbo, daí então, e por tabela fez-se no sétimo dia – a poesia.
A ruína se fez então pelo descaso, ou melhor, pelo descanso em ser perfeito. Feito o mundo ao acaso do 7º dia que não se faz que não se produz, descansa-se, fez-se cantiga.
Como o ruir da roupa – ou puir do corpo (cor)rompido. A poesia não descansou mais, enovelou-se em fio – novelo, fez-se elo entre fala e silêncio, rasgou todas as vestes indumentárias do bom tom, do belo figurino, foi jangadear-se no mar bravio.
Anna Liz entre o céu e a terra, andou por sete dias pelos desertos infláveis, inflamáveis, coletou pústulas, carregou gazes, fez suturas poéticas nas aves que saiam em busca do naufrágio da pesca.
Anna Liz em seu belo livro de poemas (Sob)re a pena escondida, pela editora Penalux, espera Godot, mas um ser que acorrente a espera do sangrar-se ou sagrar-se lírico romanesco, à ponto de não fechar as feridas do continente corpo. Pois há geografia na poeta em não se enclavar num território nucleado, fechado. No sétimo dia, havia uma vasta cordilheira há esculpir com os pés, com as mãos, colagens imagens dolorosas de si, olhando de algum cume o próprio poema falar de abismos.
É o traçado fétreo entre o som do apenas proferir singelezas, ou atravessar os sub-infernos da linguagem, que vibram, tão tesos, ou tensos com uma costura definida de alinhar dores não perdoadas, pelo bom senso do perdão da palavra, (dês)culpa, porra, que ca(l)do cristão, pois, na palavra, sua, poética, há sal que dê milágrimas, que de versos-jangadas, como a saudade é um tônico capilar, capilarizado, pelo extenso corpo canibalizado.
Fernando Andrade – Crítico literário, poeta e escritor, autor de 4 livros de poesia. O seu livro mais recente é “Perpetuação da espécie”, editora Penalux, 2018.
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