QUASE TUDO
o sol faz ver
quem olha o sol
não vê nada
com lente escura
dá para
olhar e ver
escurecer o olho
dentro do olho
e o sol brilhar
escuro
o cu é uma
palavra
pequena e ao
mesmo tempo
palavrão
a cigarra não
fuma cigarro
o cigarro fuma
pulmão
a mente sabe
o que sentimos
ela faz a gente
sentir o que
sentimos
quando sentimos
o que ela quer
mas todo mundo
diz que o culpado
é o coração
que é um
músculo
que bate no peito
dizendo
que não é
o culpado não.
LÍNGUA DE FOGO
a língu
a do fo
go lam
beu a
encosta
do morro
sem so
corro
o morro
gritou a
noite inteira
quando
o sol deitou
sobre as cinzas,
pela manhã
no silêncio
seco do mato
queimado
a fumaça
ainda dançava
sobre os des
troços das
árvores nuas
de folhas
e de frutos
perdidos
no contato
quase
sexual
das chamas
Insaciáveis.
A MARÉ
olhar o mar
ver o mar
sentir o mar
se arrumar
ser o mar
e segurar
toda onda
que vem
que vai
mas não sai
de mim
até o meu olhar
encontrar o seu
e transbordar.
SENTENÇA
hoje a fome tem a minha cara
eu quero um desapego
que me atravesse
luz dos postes em seta
cápsulas deflagradas do sutil
afago que me falta
que adense a forma
da forma que vier
a minha coragem
toda a força que me resta
para cantar os meus versos
até que o silêncio destitua -me
de todas as palavras.
Fabiano Silmes é escritor, poeta, artista plástico, graduado em Produções Publicitárias e Marketing, pela Universidade Estácio de Sá-RJ. Em 2011, lançou seu primeiro trabalho literário: Comida para Bicho-Cabeça, livro de poesias, pela editora Multifoco. Atualmente, colabora em blogs alternativos e também participando de eventos culturais pelo Rio de Janeiro.
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