por Fernando Andrade
Deus dê-me livro.
Imagine alguém chegar para você do nada e dizer “eu livro você disso”. Você leitor à moda Calvino, que leu “Se um viajante numa noite de inverno”, vai achar repugnante e ofensivo tratativas de negações do tema e ação que você faz em curso. Imbuído do sujeito qualquer verbo vira petulante. Quer dizer não o faça, prefira coisa mais iluminista, embora o livro tenha sua razão. Vá viver a vida, vida louca, já diz um cantor. Mas este conceito de palavra – livra
dos meus pecados é algo bem perigoso… que tem encontrado ecos nos dias de hoje onde parece que fontes primárias falam em matérias humanas, portanto, literárias vão cair em desuso, como Filosofia, História. É a própria fabulação e narrativa do livro verbo. Nesta horas me mordo pelo substantivo mais nominável, pois para ele, o Eu é um apêndice inflamado e extirpado. Deus me livre já dizem os crentes e afins. Ou poderia ser… Deus dê-me livro. Uma campanha e tanto nas escolas sem partido. O livro carrega sinais que não são nem maquiavélicos e nem benévolos. Ele carrega a sujeira humana, que não deve ser varrida para debaixo da sacristia cristã. Ali, livre leve e solto nos moldamos no mesmo barro antigo do mais antigo testamento. Além claro, dos símbolos, as árvores, a semente, serpente, pois livrai-me do mal quer acabar como derivações miméticas do intuir, pensar. Como chegar em uma pessoa que nunca se viu e percebê-la por doses homeopáticas de sapiência. Aí aparece o livre que não é livro para poetar o tal arbítrio; aquela ponderação entre escolha e infortúnio que pode ou não ti mandar para o inferno. Como diria Roberto Carlos, é que tudo mais vá para o inferno, Dante já olhava por nós.
Fernando Andrade – poeta, escritor e crítico de literatura, autor de 4 livros de poesia. A sua obra mais recente é Perpetuação da espécie [Editora Penalux, 2018]
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