Por Ana Meireles
Uma primeira implicação da leitura de um livro é precisamente saber o que nos diz o título. Como acontece com muitos leitores e eu não não me excluo de estar entre, o título é como o imã que faz as vezes de atrair o interesse do leitor.Quantos são os títulos que nos falam aos sentidos? Em algumas ocasiões a conversa estabelecida entre o livro e o leitor não flui de imediato, há silêncios prolongados , balbucios. Não é tão fácil se lançar ao abstrato. Quem disse que é fácil? Em princípio uma camada de barreira se impõe e ocupa o lugar de uma impressão de caos, em simultâneo ao hermético, ao que foi enxuto e está seco. E que aos poucos, por insistência, um vão, uma abertura, uma brecha, torna possível enxergar, explorar para finalmente sentir. Um quase antes de instante em que, imaginariamente, a tão famigerada e falada esfinge parece já se posicionar para o tentador ato de devorar. E o leitor, leitor, a tempo salva-se de ser engolido pela serpente afigurada em palavras.
Daí, por continuidade, sentir como se porções da sua pele começassem a se impregnar do sensível …a busca imperativa para acomodar no peito a ilusão de que será possível decifrar . E se pergunta: É possível decifrar a poesia pela carne metafórica das palavras? Aqui já se antecipou ser uma ilusão, ilusão evocada em tentativas. Aos poucos, porém, os ossos ou parte deles , vão sendo descobertos e uma certa nudez cálcica se vai forjando entre os ligamentos de uma razão cavoucada. Em plena cena, as palavras, a voz do poeta , não se confunde : DENTRO DE NADIR HABITA O ZÊNITE.
E o pressuposto do obstáculo ante a incisão de ousadamente penetrar com olhos a face do significante, é o solvente da argamassa que formata o paradigma do intangível, do impalpável.
Ao leitor, o desejo de sentir para se sentir incitado à linguagem poética-dialógica . Mas ao poeta, conectado indelével ao eu-lírico, a própria essência transfigurada no em si , na expressão híbrida das imagens afluindo , a dimensão do transcendente, a magia in-definível da linguagem poética que conecta e/ou reconecta opostos, da superfície das palavras, ao caminho e estrada das alturas, ao esplendor do inefável…
Nesta apreciação, um belo poema do livro de Jean Narciso Bispo Moura para ilustrar :
CORPO LUMINOSO
as palavras galopam
no corpo da eternidade
cavam barulho
no magistral silêncio
o corpo luminoso
fincado na concreção telúrica
faz cócegas no meu raciocínio
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