LOGORREIA DIDÁTICA PARA TEMPOS DE MERDA
Te enganaram no Rá-Tim-Bum,
sinto muito informar que
viver é um troço fodido.
Melhor seria saber o
quanto antes quanto se
vai de si no lastro do
tempo a cada passo dos
muitos passos perdidos –
todos eles, para ser exato –
entre primeira e última
lufadas sofridas de ar.
Sagrado e profano são
dois nomes vistosos para
uma única e mesma coisa
irrelevante e toda torta.
Ninguém faz ideia sobre
a serventia do mundo,
nunca permita que
te digam o contrário.
Flutuamos sem rumo
numa casa de loucos,
o vetor nós engolimos
pela mais pura inércia
e nem me faça começar
sobre essa porra de amor.
NOITES COM LADLI
nossas noites eram memoráveis:
ela dançava a hula de Ammit
um homúnculo mal batia
pregos nas minhas têmporas
depois catávamos catástrofes
com uma redinha de náilon
éramos tão jovens que
não havia tempo para nada
era preciso acabar com a vida
para melhor louvar a vida
ou qualquer besteira dessas –
nunca nos informaram do plano
REMINISCÊNCIA
Lil’ Johnson meio vesga
balançava as canelas magras
e nuas sobre a mesa bamba
ao lado da jukebox
acenei quando entrei como
sempre sem ser visto
virei amigo de um cara
triste de terno amassado
que me pagou umas bebidas
fartas ainda que breves
e saiu ladeado por diabos
carrancudos que iriam matá-lo
porque ele cheirava demais e
porque ele pagava de menos
eu era jovem e arredio
e fui dormir mais cedo
(a noite somava dois
defuntos a mais do que
o necessário para
me afugentar)
ou então fui beber
em outro lugar
não lembro
naquele tempo dava
tudo meio que na mesma
Marcelo Pierotti, nascido em 1984, é autor dos livros Domingo no Matadouro (2013) e Cínico (2019), ambos pela Editora Patuá. Escreve poesia, alguma prosa e tenta se acertar com a ilustração. Depois de muito se mudar, hoje em Sorocaba, SP, onde cuida do filho chamado Antônio e de uma gata chamada Morgana.
SHOWcada!!! Fodástico. Amei.
Pois é… nada como ser autêntico e escrever com a alma. Por sua vez, outros, metidos a literatos e líricos não me apetecem. Ainda bem que se vê de tudo por aqui. Obrigado aos editores e a quem empresta seus versos, como é o caso do ora em post. Abraços a todos.