César Manzolillo, é natural do Rio de Janeiro, licenciado em Letras (Português – Literaturas) pela UFRJ, Mestre e Doutor em Língua Portuguesa pela UFRJ, com pós doutorado em língua portuguesa pela USP. Professor de língua portuguesa, lecionou e ofereceu cursos na Faculdade de Letras da UFRJ, no Instituto de Letras da UERJ, no Instituto de Letras da UFF, na Faculdade de Formação de Professores da UERJ, na UNESA, no SinproRio e no colégio de aplicação da UERJ. Diretor da montagem da peça “Senhora dos Afogados”, de Nelson Rodrigues, apresentada durante o mês de julho de 2008 na sede da Cia. de Teatro Contemporâneo (Botafogo, Rio de Janeiro). Revisor de textos. Participou em algumas coletâneas. A Angústia e outros presságios funestos é seu primeiro livro de contos.
por Douglas Oliveira
Direto ao ponto. César Manzolillo, escritor carioca, em seu livro “A angústia e outros presságios funestos” [Gramma, 2017] traz à luz “Álvaro”, “Arnaldo”, “Bartolomeu” e tantos outros nomes que dão origem ao seu livro de contos. “Arnaldo”, o auxiliar de serviços gerais, “Fábio” e o convite para a festa, entre outros, mostram-nos o exímio contista das terras de Machado.
Os contos de César (isto daria um nome de um livro, até mesmo deste texto) são de leitura fácil, rápida e gostosa. Vejam, a sinestesia literária é uma característica do bom escritor, pois permite ao leitor sentir o gosto da obra, o tom do narrador e o toque da história. Por isso “A angústia e outros presságios funestos” pode ser devorada como um “almoço” dentro de um ônibus, um lanche da tarde, ou ainda, como uma pausa entre a obrigação de viver e a vontade de sumir.
Durante o efeito sinestésico da narrativa é possível – facilmente exequível – entrarmos na história e visualizarmos as cenas. Ora, dificilmente não conseguiremos construir imagens em nossa cabeça, repleta de sinapses nervosas, ao lermos um texto, porém, sabemos que muitas estruturas narrativas não são de fácil construção imagética. Alguns escritores constroem labirintos que não tem saída, deixando leitor, texto e autor presos num dédalo intransponível. Todavia, o texto bem escrito de César constrói em nossa imaginação os cenários – e atos – capazes de nos permitir a leitura sem que esta nos canse. É, comum (e aqui não se deve entender como ordinário) encontrarmos nos textos cenas do cotidiano, que por vezes levaram-me (e poderão levar aos demais leitores) às observações sobre a pressa dos nossos dias, ou ainda, sobre a fragilidade da vida.
A leitura de “A angústia e outros presságios funestos” foi uma das melhores leituras que fiz até aqui, de escritores que me são contemporâneos. Deixo (não sei se o deveria) uma breve anotação: tenha “cuidado”. Ou melhor, não tenha pressa, pois mesmo sendo um livro de leitura fluida, Manzolillo traz na escrita um quê de Saramago na forma de escrever, uma escrita não canônica. Antecipo-me, como leitor e comentador da obra que aqui cito, em solicitar o perdão dos especialistas em literatura, e em Saramago. Contudo, não posso deixar de anotar minhas impressões, assim mesmo, no pessoal, no subjetivo. Os demais poderão encontrar qualquer, ou nenhum, outro traço na obra de Manzolillo; mas a arte é isso, uma interpretação pessoal do observador/leitor, mesmo tendo o artista/escritor colocado sua intenção na composição da obra.
Dai a César o que é de César! Não o níquel apresentado por Cristo, tampouco o império de César Augusto, não! Dai a César o devido espaço em sua estante, o aconchego de sua prateleira, a amizade dos autores clássicos a este nome que surge com sua promissora arte de escrever. Dai a César o tratamento de um conterrâneo machadiano, mas dai também, ouvidos ao que lhe diz sua obra, seus personagens.
Douglas Oliveira, escritor e editor da Editora Folheando
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