CANTIGA DE ABRIL
Lua cheia, falhada. Claridade de outro mundo e o sibilo de um pássaro de agouro. Que há que se perseverar nos detalhes. Nos recados. Que os olhos. Olhos de ver. De sentir. E ainda nem era hora. E onde agora um descampado, um deserto pra chorar. Chorar. E chorar. Esta cidadezinha de nada e o tamanho do meu grito.
Daquela vez, antes de dobrar a esquina me virei. Ela acenava da entrada do beco sob a luz amarela de um poste da avenida. Madrugada. Último horário do ônibus.
Vou esperar as cartas! Que os filhos…. Os filhos são mesmo do mundo e deste lado do peito. A sua voz que seguiu comigo.
Da última vez anoitecia quando deixávamos o consultório do médico. Enquanto esperávamos um táxi, ela baixou a cabeça, brincou com um botão frouxo da minha camisa; secou uma lágrima. De mãos dadas ficamos em silêncio. O amor mais forte. E o medo. O meu medo mil vezes aumentado. A minha revolta. Algo muito grave nos aconteceu.
Depois aguardei o seu sinal à sombra da casa onde me deu à luz. E nem demorou e, a aragem tépida nas plantas do jardim, volteios de folhas secas aos meus pés, um silêncio prolongado que insistiu e o portão à minha direita que rangeu e se manteve entreaberto para o que viceja em mistério e sob códigos. Os nossos códigos.
Acho que lhe dei um piscar de olho. Acho. Mas tenho certeza que lhe fiz.
É muito código para a minha cabeça. Ai, ai, ai…