Livro de poemas A travessia das Eras trova em ritmo e reflexão a existência por nós enquanto, homens-seres
Quantos anos a terra erra em seu caminho de órbita? Sou eu um minúsculo cisco no universo? Sol eu que dá a distância entre o calor da praias: litoral fervilhante de nus bronzeados; melodia maresia. Sou eu que fervilho dentro da panela ego fritando minha existência errante e berrante, como boi-boi-boi trilhadeiro por desfiladeiros, despenhadeiros de uma encosta que não sei se é minha. Talvez a vida nos encerra no corpo orgânico para habitar questões sobre o tempo, as eras geológicas, os extratos do pensamento com ou sem conta bancária. Mas mesmo endinheirados, pensamos ou pesamos o entorno, este meio que não é fim, mas deveria ser consciência de algo humano.
O poeta André Galvão em seu novo livro de poemas A travessia das Eras, pela Editora Penalux, pergaminha caminhos com o homem atravessando eras ou Eros, pois a poética parece enfeixada pelo amor às palavras. Quando se tem amor, não é preciso ser Narciso para se auto-analisar, quanto refletir sobre nos-eus, nesta trilha sobre a terra. Sempre indagando à si quanto persona-(po)ética sobre o estado de inquietação do eu- entorno- real que aparenta ser cada vez mais fuliginoso, fibroso.
André parte de cada sessão do seu livro de perguntas-indagações de cunho filosófico sobre o estado de sítio, aparthaid, as relações sociais mediadas por filtros de conveniências. É muito interessante o filtro gradativo que o poeta faz do coletivo ao pessoal, indo através das eras-versos numa espécie de passagem-personagem sobre o tempo, marcando a face dele como homem e também com artista, mas constituindo no passar do livro, das folhas, uma inquietante auto-análise quase por viés psicanalítico.
São versos baladeiros-trovadores que acionam entre si, perguntas- respostas quanto ao ser no mundo do poeta. Se o passado é uma barca que morfema Orfeu, quem somos nós? Quem? sou eu nesta espécie de estrada onde o poeta tenta não olha para atrás.
cotação: muito bom
Fernando Andrade, poeta, escritor e crítico de literatura. Autor do livro Perpetuação da espécie, editora Penalux,2018.
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