não sejas um poeta.
e se fores um, sejas o poeta,
mas não sejas universal.
e se fores um, não digas o ser,
porque saberão que tu és só isso –
e quando lhe digo só isso, só
quem é poeta saberá o que é –
do mínimo que já é.
não faças versos
incrédulos, crepitantes,
na escrita que arde e nem
estejas enlouquecido a queimar.
se aconteceres isso, estarás
condenado à infelicidade.
desejas apenas errar, e quem
sabe – esse seja o teu acerto.
não faças poemas sobre
o que consome a você,
somente a você não escreva,
não se reveles entre o ponto
e a vírgula indecisa.
entretanto, escrevas o que
achar disposto a tu ler
e, obviamente, o que lhe apetece.
não termines com o café da cidade
para dedicar um verso à amada.
não te mostres mais que
os acontecimentos do mundo.
o mundo é pouco diante do seu
coração, escrevas, escrevas tudo.
não digas muito de si mesmo,
digas do pernicioso, mas estejas pronto.
digas mais da sua aldeia e estarás
vociferando do mundo e quando
estiver pronto, saberás o que fazer –
até mesmo um bom verso levará
anos ou a vida inteira.
isto não é ser poeta, desculpe-me.
não o sou, aviso-te.
não prevejo a capacidade de
calcular a velocidade do vento –
ou seja, de arrombar uma porta.
não deixes escapar o momento,
nem que seja o resquício – o breve.
não fales das cerâmicas, ou de algo
corriqueiro, muito menos dos
óculos que caem em seus rostos.
não digas muita coisa.
digas o que compreender o necessário –
e até lá, todos os poemas
seus não serão bons.
mas, acalma-te, levarás tempo.
serás árduo em uma batalha.
se fores um homem, menstruarás.
se fores uma mulher, terás um pênis.
mas ainda digas, sou poeta,
e mulheres, não digam ser poetisa,
digam ser poeta.
se compreenderes que está à poesia,
independente da guerra e do amor,
independente de sangrar-lhe e
nem de mais sorrir a nada,
escrevas, continue a escrever,
porque resta-lhe a felicidade.
resta-lhe a felicidade de retirar-te
o pulmão e de dá-lo aos leitores.
mas percebas, o leitor apresenta
um modo poético – se não as poesias
não casam e nem se encontram –
se perdem.
digas a incapacidade de solução,
porque na pior das hipóteses,
um poema lhe diluirá antes
mesmo de escrever a palavra morte,
mas, se escreveres, cara/o poeta,
estejas preparado para o pior
e o pior não é morrer –
é não conseguir escrever uma linha que presta.
e talvez você incrivelmente aches
que é o seu fim sendo que ainda nem
começaste,
mas antes disso tudo,
comeces
talvez eu já nem esteja lá mais onde tu estarás.
tempo indeterminado
mesmo vazio de sempre
não dizer nada contigo
em um segundo
em um minuto
em uma hora
em um dia
e ficar sozinho
por tempo indeterminado.
quadros
ao pintar
um desenho da minha irmã
atravessamos ininterruptamente
a linha de colorir
como quem ultrapassa uma porta
como em uma rota de um território
muito particular
crescessem os olhos a nós
sobre nós sobretudo nós
não disséssemos nada
entre o vernáculo novo
que a gente prepara
para conhecer o outro
como que ao adentrar
estivesse sempre a se naturalizar
na pintura terrível
linda pintura da minha irmã
e nós misturássemos as
cores primárias secundárias
e fizéssemos as terciárias juntos.
Enzo Fuji escreve poesia, mas não se considera poeta. Ainda não sabe o que quer ser e como quer que seja. Vencedor do prêmio da editora Lamparina Luminosa no estopim de 2017, junto a mais nove autores, que serão publicados em uma antologia. Publicou, no final do ano de 2018, aos 18 anos, o seu livro de estreia pela editora Patuá, Depois que seja tarde antes que seja nunca, com poemas escritos entre os 16 e 17 anos. Tem poemas nas revistas literárias Mallarmargens, Ruído Manifesto e também no Kotter Editorial. Ainda feliz, divulga os seus versos pelo instagram e facebook, conhecido em ambos como @enzofuji. /enzo.juniti@gmail.com/
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Almas que aparecem a cada século; quando aparecem.