por Jean Narciso Bispo Moura
Exercício de leitura de mulheres loucas, editora Patuá, 2018, primeiro livro de poesia de Cinthia Kriemler, de imediato se destaca pela temática; pelo uso da poesia-mirante em prol da discursiva urgência do posicionamento crítico feminino. A autora deste modo recusa os instrumentos de docilização – os fios e teares que se apropriam de nosso modo de pensar.
Cinthia Kriemler alia-se a Foucault e reconstrói esta mulher, que é impelida a subjugar as vontades, seus volteios, toda e qualquer sorte de mover-se livre, e é peremptoriamente tachada pelo imaginário coletivo, como louca, pois as mulheres “não loucas” devem, em conjectura, adornar as suas verbalizações e modo de ser no mundo, a fim de se ajustarem ao paradigma instituído pela cosmovisão masculina.
Kriemler em seu livro mostra que somente a ação da mulher como um ser histórico, é capaz de transgredir este enrijecido presente e, por conseguinte, ampliar a busca por espaço de escuta, difundindo assim territórios de pensamentos plurais e abertos à percepção do outro.
“Exercício de leitura de mulheres”, apresenta para o espelho da consciência emancipada um oportuno reflexo, pois somente mulheres plenamente lúcidas sabem da possibilidade de reverter este temporal itinerário, projetando para si mesmas uma visão cultural, menos afincada ao ideário que teima em se manter vigente em muitas cabeças.
culpa
de tudo o que nos incrimina
o que nos condena
é a mudez
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