Andri Carvão transfere para a sua escrita uma energia que passa eletrificada pelo seu corpo, ele capta as cenas miúdas esquecidas no cotidiano

 

por Jean Narciso Bispo Moura

Um sol para cada montanha, do poeta Andri Carvão, editora Chiado, 2018, à primeira vista arrebatou-me pelo título, há uma força silenciosa e inconfessa ao ler o nome de baptismo deste livro.

O título parece atrair-nos para àquilo  que é ambientado no interior de nossa individualidade, de fora,  e em um lugar  de boa visão, o autor contempla o homem e os seus itinerários.

Os textos  ruminam, nos olhos e memória,  expondo ao olhar perceptivo os acontecimentos da história recente, dos anos 90 para cá.

Andri Carvão faz uma foto-verbal similar a pulsão que a vida transmite, sendo assim poeticamente fiel  à potência dos fatos. Nele encontramos um lirismo atiçado pelas dores do mundo.

Carvão transfere para a sua escrita uma energia que passa eletrificada pelo seu corpo, ele capta as cenas miúdas esquecidas no cotidiano, vê as distâncias, entre indivíduos, provocadas por uma sistema econômico glutão. Nas suas páginas e versos a condição de vida subalterna não  é de modo algum ignorada.

“Um sol para cada Montanha” talvez percorra o caminho da singularidade sem se perder na pluralidade, o poeta faz do seu álbum de registro pessoal um entrelaçado álbum coletivo, e emite e reemite na sua poética, que não é  possível igualar os trajetos e trajetórias, mesmo que o enfeitiçado adágio diga que o sol nasce para todos, sendo apenas um travestido logro concebido na boca de  indivíduos  afortunados.

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