Romance Ensaio para o adeus tematiza a relação sempre da pulsão entre, criação, vida e morte.

 

Por Fernando Andrade

Haveria uma vontade de morte ou um disfarce do seu rosto marcado pela contraluz da ineficácia do desejo? O duplo tanto usado na literatura e teatro não seria uma máscara para a pulsão de uma morte em vida, não a cessação do corpo, mas uma latência dela nas malhas do organismo que não pulsa na exata medida da sua potência anímica. E ao viver não se escolhe os caminhos que se vê, mortos, como num jogo de semântica de sinais trocados, como se o amor viesse com o signo invertido, está possibilidade de estar no lugar onde a ação se conecta à fatalidade, aos desvarios do destino, quando se perde a direção do pulso ou da pulsão, as coincidências que diríamos macabras acaba por fazer mais sentido, uma razão, puramente cartesiana.

 Temos a noção que está tudo enredado numa trama, numa narrativa que até pela religião está além do nosso alcance puramente racional. Mas lidamos com a experiência visível, com plausibilidade dos fatos. É exatamente nesta encruzilhada tanto metafísica quanto fantasmática, que se lê com prazer dedutível o romance Ensaio para dizer adeus, do escritor Eliezer Moreira pela Editora Patuá.

Há uma interessante jornada investigativa do ponto até da lida da narrativa. Até que ponto queremos acreditar naquilo que pomos os olhos? Onde vai a suspensão da credibilidade quando os caminhos vão por becos tão sombrios e mal iluminados. Eliezer vai na cerzida linha que separa sanidade e loucura, costurando uma trama rocambolesca onde tramas paralelas são acrescidas para aprimorar a confusão dos sentidos. As ambiguidades dos fatos parecem estar sob constante rotina do delírio. O foca que vai cobrir a morte de um jovem numa cidade do interior de Minas, e descobre ser ele sócio escarrado do morto, fisionomia-destino ligados pelo torvelinho de vida-morte. Os fatos não encadeiam, ele começa a ver a si como alguém que pode estar morto no lugar do cadáver. Sua identidade se fragmenta em mil curtos-circuitos, ele passa a não reagir as ações que dele pedem demanda. Há uma indefinição do caso: suicídio ou assassinato?

Há no decorrer da narrativa um certo narrador que opera como um narrador onisciente que parece conhecer a trama intimamente, mas ele parece também estar olhando com certa distância estes eventos da cidade. Ele conhece a mãe do jovem morto. Tem ligação com o dono do jornal que mandou a equipe de reportagem. 

O livro caminha para uma certa relação entre o que arte pode mimetizar dentro de um esco®po entre sublimar apenas o que o real tem de insólito e inverossímil com a potência do devir entre futuro e a própria noção de fatuidade: brevidade da vida.  

COTAÇÃO: EXCELENTE

 

 

afernandoab 300x300 - Romance Ensaio para o adeus tematiza a relação sempre da pulsão entre, criação, vida e morte.Fernando Andrade – Crítico literário, poeta e escritor, autor de 4 livros. O seu trabalho mais recente é Perpetuação da espécie  [Editora Penalux,  2018].

    

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