por Fernando Andrade (Escritor e crítico de Literatura)
Nosso corpo parece fixo. Preso ao chão por gravidade. Atado ao solo, só. Estaremos voando mais pelos destinos/desatinos do pensamento; uma espécie de gaivota que volta à palmilhar lugares e ares.
Mas será que a maçã descrita por Newton que cai da árvore, não por metáforas do paraíso perdido, por uma nudez que não é apenas física, mas também imagética. Como nós nos percebemos como biotipo humano?
Cada um sabe a dor que tem. Do seu núcleo, palavra arregimentadora de expectativas que pode desagregar mais que unir. O peso de um elevador faria de seu eixo de cima para baixo ou na sua capacidade de lacrar o movimento enquanto linguagem do olhar, movimento que parece livre. Cabos, roldanas, caixas, relações de falar sobre uma certa movimentação vertical, de transporte ou deslocamento.
Em seu segundo livros de poemas Depressão tem sete andares e um elevador, editora Penalux, Isabela Sancho, faz uma elegia do espaço do poema com um lindo desenho cartográfico. Há uma narradora colocada no livro ao mesmo tempo como analisada \ analista, embora faça este traçado de escrita com o que chamamos com a tela de escuta. Internalizar a própria voz, internalizar os aspectos cambiantes do lacrado\fechado corpo. Um dos aspectos do livro de Isabela é se colocar como alteridade de si. Algo como falar da sua intimidade pelo viés da terceira pessoa, ( um voz perenemente distanciada).
Os poemas são divididos em 7 andares que percorrem certos subsolos que podem ou não serem mentais, quanto sublimados de imagens poéticas. Suas imagens obedecem em tanto à construtos físicos operacionais da máquina quanto desenhar certas alegorias criativas sobre a relação da doença com a verticalidade do elevador\ movimento ocluso-do-olhar. Mas a poeta translitera esta mera questão do espaço-privativo-reclusão; do corpo que cai gravidade numa viagem ao subsolo-fundo de si mesmo.
Aspectos emocionais como uma cognição com o entorno puxam fios e novelos com cães, flores, cozinhas, elemento social de coletivização do urbano-privado. A poeta parece que procura depurar através de seus elementos intuitivos-naturais toda forma de padronização e poder que engendram perdas de energia do corpo como as vãs responsabilidades sociais como ocupar, demandar e tarefar. E outras anemias do social.
Cotação – excelente
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