GENÉTICO
de meu avô:
– a criptografia popular
que mantenho como código
– a simpatia do mascate
que mantenho como código
– o gosto pelo riso
que mantenho como código
– a carne de porco
que mantenho como código
de minha avó:
– o código de ética!
A BENÇÃO
Apesar de minha adaptabilidade ao meio tenho índole caipira. Aprendi com meu pai a
admirar os bois nos pastos, que ladeavam as longas estradas das viagens da infância.
Outro dia ele mostrou-me as mãos raladas, distraído tropeçou num cupim.
ENCARNADO
Há sangue no algodão do armário do banheiro. Há sangue sobre o lençol branco
engomado. Há sangue na sola daquele pé. Há sangue correndo na veia, desde sempre.
Há um mar de sangue na Índia, sem motivo aparente. Há quem sangre pelo cu e pela
boca. Há um lambari em minha vara, fisgado. Já não há quem dê por isso.
Humberto Pio é mineiro, adora queijo e detesta goiabada. Desde menino desenha e escreve. Adulto, mudou-se para a cidade de São Paulo e se fez arquiteto, sem abandonar o poeta. Em 2006, criou o blog Ruminessências, pasto da memória que forneceu textos para a antologia Transitivos (Off Produções Culturais, 2011), apoiada pelo Proac-SP. Em 2012 publicou com amigos Samba Mínimo, Extra Luxo Super (edição do autor), fotolivro que documenta a turnê de quatro anos do espetáculo Samba Mínimo da cantora Juliana Amaral.
Coágulo, vencedor do Prêmio Maraã de Poesia 2018, é seu primeiro livro solo. Será lançado em 2019 pela Editora Reformatório.
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