APOCALIPSE NÃO
Hoje o sol não deu as caras
fez-se o dia cinza escuro…
eu ao som de línguas raras
clamei, sim, por meu futuro
– que rumava pro passado –
vi meu fim longe, imaturo
feito imagem, conspirado
convencida, minha mente
de que o sol tinha apagado
uma pane inconsequente
bem na hora do sol-posto
toda luz se fez ausente…
– nosso fim, enfim, imposto?
Mas de um sopro germinante
surge o sol rente ao meu rosto
PALAVRAS A UM FUTURO SOL
Vai, amigo vento, vai
e diz para o alumioso sol
(e propague por todo o universo possível)
que, apesar de tudo, a humanidade insiste…
no entanto, necessita
como nunca, de vozes e silêncio
– o infindo silêncio de lábios indignos
… que os seus intensos e sorridentes raios
inundem as anoitecidas entranhas humanas
assombreadas em escancarantes e omissas bocas
revele, ainda, amigo vento
ao alumioso e comovente sol
que, apesar de tudo, a humanidade insiste…
no entanto, necessita
como nunca, embriagar-se do néctar futuro
do sereno e futuro amanhã
que germina, cheio de graça, em seu alumiante ventre
vai, amigo vento, vai…
ALÉM DO ALÉM
E se tudo é mistério… além segredo
e bem pouco sabemos dos acasos
flutuando entre a luz, a sombra, o medo
habitantes do tempo, dos espaços
e pensarmos de forma persistente
qualquer hora fundirmos pontos, traços…
desvendando o segredo incongruente
no controle do senso e mais ainda
num cálculo cingir o inconsequente
se sonharmos burlar a força infinda
é preciso saber que o fim começa
muito além do sinal que o além se finda
MAJELA COLARES, poeta e contista, nasceu em Limoeiro do Norte, Ceará, em julho de 1964. Está radicado em Recife desde 1992. Publicou os seguintes livros: Poesia: Confissão de Dívida, 1993; Outono de Pedra, 1994; O Soldador de Palavras, 1997; A Linha Extrema, 1999; Confissão de Dívida e Outros Poemas, 2001; O Silêncio no Aquário/Die Stille im Aquárium, 2004, edição bilíngüe português-alemão, trad. Curt Meyer-Clason; Quadrante Lunar, 2005; As Cores do Tempo, 2007, 2ª Ed. 2009; Memória Líquida, 2012; Margeando o Caos/Vorejant el Caos, 2013, edição bilíngüe português-catalão, trad. Joan Navarro e O Retorno de Bennu, 2018. Contos: O Fantasma de Samoa, 2005. Tem participação em antologias, revistas, jornais, sites, blogs, publicados no Brasil e no exterior.
São de fato poesias raras, de uma rica sensibilidade e nuances de um suspiro profundo que cala a alma.
Todo poeta será bem-vindo.