calaBOuço
Todos recebem um pouco dos ódios dos outros
calabouço.
Todos recebem um pouco dos ódios dos outros
e os ombros desabam como pilar bombardeado
e as ideias justificam a salvação que mora
na espera,
calabouço.
Todos recebem um pouco dos ódios dos outros
enfadonhos e resignados corpos que com um só sopro
terminam esmagados como pernilongos.
Todos recebem um pouco dos ódios dos outros
calabouço.
Ouço as almas em corpos apaziguados
com tanta bala de borracha e outras de pólvora
que todo dia matam
oprimidos corpos e sonhos
calabouço
eu morro.
Todos recebem um pouco dos ódios dos outros
tudo cresce e os erros cada dia mais grotescos
e a cegueira cada dia mais profunda
cidade, sociedade, sujeira enviando ódios.
Calabouço
Ouço um campesino agônico
últimas palavras eu ouço
esforço, forço poder para o meu povo.
Ouço um tiro
e uma dirigente morrendo
dizendo suas últimas expressões
pronunciado seu testamento
esforço, forço poder para o meu povo.
Calabouço e ouço disparos a queima roupa
e um jovem negro morrendo
murmurando sua última frase
esforço, forço poder para o meu povo.
Calabouço e frio, ouço um tiro
e um indígena morrendo
gesticulando seu dialeto
esforço, forço poder para meu povo.
05/2019
Maio de dois mil e dezenove
o miliciano de olho vendado
atira sentenças de mortes,
quem morre?
é o povo pobre.
Maio de dois mil e dezenove
parlamento cheio de criminosos,
não sobra um, irmão.
Maio de dois mil e dezenove
os milicos sádicos planejam extermínio
na cidade e no campo os milicos querem ver sangue
para falsificar documentos e se apropriarem da terra
assassinos e ladrões, coronéis, capitães e sargentos.
Maio de dois mil e dezenove
o discurso oficial derrete
e não existe patente que segure a gente
a sede por justiça acelera e as ruas convocam
grandes protestos, barricadas e greves.
Para surgir
Vida que some
e não olha a lágrima
a vida que desestimula a palavra
a vida injusta
que conforma-se com cenário miserável.
Extirpar a língua conciliadora
para que surgir possa
um canto assalariado
a poesia do proletariado.
Juan Toro (1991 -), poeta chileno-brasileiro, mestre em Estudos Literários (UFSCar).
Obra poéticas publicadas: Surreal Sensorial, Manifesta, Protesta (Ed.MadrePérola); Ação Direta (Ed. Urutau); Nacadema (Ed. Kazuá); Puxando a Rede (Ed. Multifoco); Estado de Poesia e Prosa (Ed. Buriti).
Página do facebook: https://www.facebook.com/JuanToroPoesias/
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