Estas mãos sonâmbulas transcrevem
tudo o que sonhei em vigília
Estendo os dedos e toco a página de um lugar
fado dialógico, extremo de minhas mãos.
Sou textura polifónica, luz sonâmbula
de um breve segredo em que me inscrevo.
O livro das mãos (2017, Coisas de Ler)
***
A minha terra não tem um nome próprio
mas o nome do corpo que a molda
com o peso dos signos e do contexto.
A minha terra é um texto que cresce
devagar no corpo, e fora dele,
no contacto da pele com o mundo.
O livro das mãos (2017, Coisas de Ler)
***
Quantas guerras atravessaram os teus dedos?
E os teus olhos?
E o teu coração?
Quantas portas se fecharam à tua passagem
na diferença dos conceitos
no que escorre do mal concebido.
Quantas pedras sonhaste para seres
um corpo sonhado
quanta seiva engoliste e excretaste antes de a poderes
lançar na página
quanta incompreensão soubeste transpor e em ti
transformar para de novo nasceres?
A pedra e o corpo (2018, Poética Edições)
Gisela Gracias Ramos Rosa – Poeta, (1964, Maputo), tem formação em Relações Internacionais, é Mestre em Relações Interculturais e pós-graduada em Migrações Etnicidade e Racismo. Profissionalmente foi perita forense durante de trés décadas; Tem publicados os seguintes livros: Vasos Comunicantes, Diálogo poético com António Ramos Rosa (2006, ed. Labirinto), reeditado em 2017 (Poética edições), em formato bilingue português/espanhol; tradução das manhãs (2013, Lua de Marfim) vencedor do Prémio Glória de Sant´Anna 2014; as palavras mais simples, (2014 Poética edições); O livro das mãos (2017, Coisas de Ler) vencedor do Prémio Glória de Sant´Anna 2018 e nomeado na lista de semifinalistas do Prémio Oceanos. A pedra e o corpo (2018, Poética edições), é o seu mais recente livro.
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