Três poemas do livro “a menor ideia” de Lota Moncada (2018)

 

 

todo dia cai
um porta-retratos
vento não gosta
de passado

deixa deitado
me dizem
assim o vidro
não quebra

mas quero ver
de relance
a sombra da vida
que era

 

 

Desconsuelo

No, por favor,
no me consueles
déjame sufrir
que es noble la causa
que la pena es limpia
y aligera el alma.
La fina tristeza
como lluvia mansa
lava, prepara, encanta,
desliza suavemente
por ojos, boca, garganta,
dejando a su paso
sólo miel amarga.

Por favor, abrázame,
no me abandones
cuando, como alud,
sobrevenga el llanto
arrastrándolo todo,
corazón de luto
vientre desgarrado
tropel en el pecho
alma al descubierto.

Y cuando por fin
se cieguen mis ojos
para no ver más
el hermano muerto,
la tragedia inútil,
la esperanza huyendo,
permite que calle
ya secos los labios,
descanse la mano
de ademán abierto
y rehaga el paso
que se ha vuelto lento.

 

 

Antiquada, eu?

Talvez você tenha razão
e eu seja, sim,
velha, antiquada,
um pouco decadente.
Já vou mesmo
descendo a escada.

Talvez tenha, sim,
meu humor ficado ácido
e o meu bom senso
– farto de ser adequado –
enfurecido se revolte.

Já sabemos, sim,
quem ri por último
só ri atrasado.
Mas, não receie,
do riso ficou apenas
um rumor entontecido,
o esgar educado do
estranhamento íntimo.

Junte seus cacos,
seu fardo, sua tralha,
leve minha mala
querendo, até ajudo,
foram tantas vezes
que já não me abala.
Agora, por favor, saia,
se arraste daqui,
nem sequer se volte
– periga virar pedra.

Esqueça o veludo, a voz
de canalha, não gaste
seu resto de humanidade
numa guerra bem perdida.

Fico sozinha, sim,
mas, não se mortifique,
apesar de tanto ontem
– ou talvez por isso mesmo –
hoje, sou boa companhia.

 

 

Lota Moncada (Santiago de Chile, 1948) filha de pai chileno, poeta, e mãe uruguaia, atriz, fui criada no Uruguai, e me naturalizei brasileira, em Curitiba, em 1984. Atualmente moro em Porto Alegre. Sou atriz, professora de Espanhol e Português, tradutora e escritora. Embora escreva desde criança, fundamentalmente poesia, só me permiti publicar a partir de 2010, no meu blog bilíngue (Palavras Palabras), na internet e em antologias: `Ecos da alma´ e `O segredo da crisálida´ (Andross–SP- 2010 e 2011), `Una isla en la isla´ (prêmio de poesia em espanhol de Latin Heritage Foundation- EUA, 2011), `Poesia do Brasil´ Vol. 17 (RS- 2013), `Cantos Breves´ (Pará, 2015), `Blasfêmeas, mulheres de palavra´ (Casa Verde – P. Alegre, 2016), a tradução ao português e a organização da antologia bilíngue, junto com o poeta Ricardo Silvestrin, de `Habito um país distante´ do poeta chileno Julio Moncada (Artes & Ecos – RS, 2017). Em 2018 também participei da coletânea de minicontos, `Sem/cem palavras´ Editora Bestiário – RS.
Tenho 2 Cds de poemas gravados e em fase de produção o terceiro, que inclui várias canções com poemas meus compostas por diferentes parceiros.
Meu primeiro livro individual de poesia – `a menor ideia´ – foi lançado pela Editora Bestiário – P. Alegre, em julho de 2018.

Please follow and like us:
This Article Has 1 Comment
  1. andre ribeiro Reply

    muito interessante seus conteúdos gostei muito deles. Parabéns 🙂

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Social media & sharing icons powered by UltimatelySocial