en la ciudad de Sylvia
uma pequena cidade
de praia é como a cidade
de Sylvia, a menina do cabelo
afro, a mocinha
do café, a cadela
Princesa e os gringos
vermelhos de camisa de botão e bermuda bebendo sangria
os figurantes das minhas férias
se repetem por erro
de continuidade ou por baixo
orçamento ou apenas para
me mostrar o quão pequena
é a cidade
faz-se o encontro
casual ainda mais frequente quase
exterminando o acaso
ninguém sabe
quem é Sylvia e ela
não se revela ao final
deste filme porque
nem eu que escrevo sei
quem ela é
uma cidade que é
de alguém que talvez
nem exista é
por certo uma cidade
as cidades não
pertencem nem
aos seus moradores nem
aos seus visitantes talvez
aos seus mortos no pequeno
cemitério em cima
do morro observando
o movimento sutil da areia
disseram que cidades são
pessoas mas insisto em
visitar monumentos à procura
de Sylvia no meio
das dunas eternizando
minha passagem vulgar em telas
de cristal volátil
concerto para almoço ordinário
de família ordinária 4’33’’
o telejornal chia
garfo tilinta no prato de porcelana
boca assopra
jarra enche o copo
suco de laranja desce pela garganta
copo vazio toca a mesa
tosse
passa o guardanapo?
faca serra o pão
faca serra o pernil
garfo tilinta no prato
suco desce pela garganta
copo metade vazio toca a mesa
saleiro chacoalha arroz cru e sal
colherinha de alumínio topa o vidro
do copo cheio de suco
pra que tanto açúcar?
cadeira arranha o chão de porcelanato
suco desce pela garganta
garfo tilinta
faca serra
cadeira arranha o chão
suco desce
copo enche
colherinha topa
cadeira arranha
tosse
arranha
desce
tilinta
serra
chacoalha
arranha
desce
enche
topa
arranha
tosse
chia
*
você me pediu
a descrição desta foto
eu disse nossos
rostos eram continentes
separados por um delta de rio
que quase se encontravam no final
pelo estreito entre nossos queixos
sabe onde estou agora
não importa
mas sim
estou na Ilha
nada importa
desde que a Rússia
invadiu a Ucrânia
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