“O mundo é a tua vigília” – 4 poemas de João Moita

 

 

Em lugares onde os cultos apenas conhecem
a inóspita presença dos venenos,
ensaio as minhas primeiras orações:
são carícias que me esfriam.

 

**
O mundo é a tua vigília.
Levas milénios acordado,
velando a tua esperança.
Velas, teus acólitos seguram
as tuas pálpebras.
Esperas o impossível:
que se erga da terra
um rumor que embale.

 

**
Privo-me,
vivo por inteiro a minha vida
mitigada pela fome.

Quando vieres,
a minha fraqueza será sinal
para o teu reconhecimento,

e o meu silêncio,
um céu para a debandada
dos teus ventos.

 

**
Se falham o primeiro voo,
as aves não chegam a voar.
Delas não se pode dizer
que tinham o voo por condição.
Inata só a altura do ninho
e a vertigem do solo.
O resto é conquista das asas.

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