Fernando Andrade
Jornalista e crítico de literatura
Cabe na matemática a medida de todas as coisas? A fórmula de todas as adições e subtrações do dito pelo não dito, do raso ao profundo que não vale qualquer conteúdo! Cabe o quê na reflexão da geometria do arco e flecha – do círculo de namorado. Que foi feito do triângulo amoroso quando um vértice caiu fora? Em tempos Bostonianos, não quem nasce em Boston, qual é a regra ou lógica do sentido? Sobre o que deveríamos falar mesmo? Boto uma carta endereçada à ti musa hipótese angulosa ou gulosa de todo conceito reticente de certeza. Começar num vai e vem de um coito para apenas deliciar-se com a doçura do movimento. Movimento da pélvis ou do Elvis que cantava debaixo desta ponte que passou: muita água. Moinhos trituram sonhos? E o poema move o balançar não só da linguagem, mas da vida, esta figura de linguagem um pouco mitológica que se transubstancia em melodia, ritmo, pulsão, algoritmo.
O poeta Ricardo Silvestrin fez um livro longo com uma cauda longa, O sobre o que, editora Patuá, mas leitor, repare na partitura entre a parte e o todo. Uma sinfonia é preciso de certa atenção aos seus núcleos; suas células que vão se aglutinando ao conteúdo: a obra total. O poeta parte sempre de percepções do dia, como se fosse pequenas ruminações reflexivas sobre a arte do encontro, a arte da relatividade, e particulariza a união estável entre partes que são sempre ínfimas: nas suas singularidades. Pois Ricardo parte sempre do que é particular – uma pessoa, uma ação cotidiana, um afeto sobre o outro. Ele faz uma dança em cada poema, um pouco dionisíaca sobre a arte do encontro, mesmo com toda dificuldade de se colocar na terceira pessoa totalmente singular. Nesta dança cabe teses e antíteses que formam uma dialética fluída e rascante tornando o poema em si e em todos, pois como disse, parte e todo neste livro é algo extremamente simbiótico.
Nessa coletânea de poemas mas também de assuntos que lidam com nossa trivial cotidianidade resvalam sempre no humor mordaz, na ironia perspicaz, uma espécie de piscadela para uma metalinguagem que se camufla no interior do livro. Nunca vi em tantos anos de leitura uma ordem sequencial tão dinâmica e orgânica como este Sobre o que. Não seria até certa ironia dizer que o livro é tão amarrado e tendo este postulado meio indagativo, referencial. Mas caro ou cara que me lê, a filosofia não seria uma sacana gozação com a própria (es)entranha conceitual? Gozar não é apenas o ato evolutivo da criação. É parodiar o cerne de qualquer núcleo fechado em 0 1 binarismo. E o poeta não fecha o verso num controverso pragmatismo estilo inequi unívoco fechado em métrica absoluta. Como diria qualquer flanelinha – doutor, deixa solto.
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