Livro de poemas se o que eu vi aprofunda relações dialógicas entre o íntimo biográfico e sua matiz ou devir arte “elaborativa”

 

Por Fernando Andrade

Jornalista e crítico literário

 

Um poema experimenta o palco. Não um ato de lembrança. É uma ação em transcurso mas usando a roupa gasta da memória? Um poema exprime-se pelo seu gesto do corpo, tão só quanto a matiz do silêncio que todo gesto carrega. O palco gestua, o palco gestante, neste instante, não aborte seu poema em trânsito. Um  homem gestante parte de sua vida – uma viagem onde palavras são brilhos de retrovisores.

 Olhar o passado parece indivisível. Melhor solá-lo como um solo-palco, mas por onde? começar este desnível de experiências. Como dimensionar pessoas próximas ou queridas, no raio curto de um poema? Sim, estas simulações que faço neste texto experimentações de micro-afetos-segundos,  não posso ser andré caramuru,  mesmo escrevendo sobre este seu livro Se o que eu vi, editora Patuá. totalmente na condicional.

Talvez imaginar um resenha crítica, onde eu recolha uma certa poeira micro-cotidiana de afetos. Uma terceira pessoa não pode entrar nesta área da subjetividade de momentos do autor que foram milimetricamente palmilhados por aspectos tão narrativos de uma vida microdecimal de acontecimentos prismados pela lente de uma câmera  que foca links sensoriais de fatos afetos  como ver o que acontece  no acostamento de uma estrada  enquanto se está dirigindo.

Fractais poéticos onde um resenhista praticamente não entra-participa por ser tão indelevelmente pessoal e epifânico. Mas como posso continuar escrevendo se não absorvo o perfume ou o rastro de pegadas do poeta? A literatura só ela pode deixar rastros. O  fio do cordame, o pó de um monte de lenha guardada num silo ou paiol, não basta estar lá, para perceber. Mas o poeta  andré sabiamente deixa rastros, sinais de leituras, pegadas de escritores que ele leu ou poetas que sentiu. Posso eu seguir este rastro, fazendo eu mesmo o percurso de leitura a estes mesmos poetas-autores?

 O sentimento da escrita pelas leituras destes autores me faz um mesmo andarilho errante pela alameda da escrita, errante por uma vida desenhada por imagens afetos sensoriais cores de céus agitação do corpo pela rebarba de uma turbulência no mar. Posso vir a  ler retrospectivamente o poeta André pelas fontes e citações que fez no alto do texto? A partilha será feita também quando eu por uma obra do acaso ver um mesmo tom de céu do poeta, mas não estarei com a mesma pessoa do poeta, a mulher do poeta é exclusivamente dele que reparte estes momentos com ele.

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