Trump morava numa pocilga perto da rua do Lavradio cujo nome do lugar lembrava algo que coça bastante. Hotel Pulga. O nome do dono era Homero Jacinto Pulga. Todo dia ao subir as escadas, Trump via a palavra do nome da rua rabiscada no corrimão da escada. Lavradio.
Tinha alguma mania por palavras rabiscadas, depois, claro das palavras cruzadas. Alguém, talvez, algum vizinho tivesse colocado à faca, talhado na madeira do corrimão a seguinte mensagem talvez para ele, que saía de noite para tocar.
“Lavra o seu trompete. ” Rá Rá Rá.
Trump tocava no quarto. Ele na verdade ensaiava para o show depois da meia – noite num Night show ali perto da rua do Livramento. Ele Trump, gostava muito do seu trompete. Tocava com a boca igualzinha do Miles Davis. Ele tinha por hábito tocar em surdina, porque achava que o som do instrumento era lascivo. O hotel era mal afamado com uma clientela perdida num filme à la David Lynch. Ele não queria fazer trilha nenhuma para qualquer tipo de trama a ser implantada naqueles corredores mal iluminados e que por penúria só tinha um banheiro comunitário. Já diziam seus colegas músicos que tocavam com ele: Trompete é coisa demoníaca. Parece um vagido saído de uma tristeza dodecafônica.
Trump um dia \noite estava na sua poltrona com o seu trompete num banquinho, repousando, quando ouviu um mugido como se houvessem colocado ali um boi no hotel pulga. Ele saiu do quarto e olhou idoneamente para os dois lados do corredor. O som do mugido parecia que vinha do apartamento do seu Homero. Ele já com certa lassidão resolveu subir as escadas que levavam ao último andar.
Chegou bem perto e resolveu voltar e trazer seu trompete. Aquilo parecia vir de um (a) trompeta, ou uma corneta, do tipo que se toca em estádios de futebol. Já era quase meia noite e o show era pontual como uma pulga que radiografa um palco e suas coceiras. Dali começou um solo de jazz à lá Davis com Marcus Miller, alegro man no tropo. Aquilo parecia um tanto
flamenco.
Homero abriu a porta e perguntou: “O que o senhor está fazendo aqui, Trump?” .
“ Eu vi ou melhor ouvi um ruído vindo daqui? ”. “Sim, ouviu, é minha esposa.” “ E o que ela está fazendo? ”. “Pegando folego ou resfolegando.
E Trump, pesaroso, não sabia onde enfiar a sua cara-trompete.
“Vou lavradiar essa noite na sua conta. Seu estropício”, disse à Trump.
Trump saiu para o seu Night show.
TROMPETA – SIGNIFICADO: INDIVÍDUO DESPREZÍVEL.
TROMPETE – SIGNIFICADO: É UM INSTRUMENTO MUSICAL DA FAMÍLIA DOS METAIS QUE SE CARACTERIZA POR INSTRUMENTO DE BOCAL E FEITO DE METAL. USADO EM DIVERSOS GÊNEROS MUSICAIS PRINCIPALMENTE O JAZZ E O CLÁSSICO.
TRUMP – INDIVÍDUO FALASTRÃO QUE CURTE BISBILHOTAR A VIDA ALHEIA.
Bem divertido. O engraçado de tudo, é que se eu escrevo algo do tipo, sou palhaço:
No meu castelo de sonhos, você é a rainha.
Uma após outra, as cartas se precipitaram ao chão da suíte real. Ofélia tinha embaralhado as cartas para relembrar os bons tempos em que passava horas e horas jogando baralho com seu amado no palácio governamental. Sempre depois do carteado, o perdedor se entregava aos beijos e abraços, em um jogo sem perdedor.
O carteado solitário foi demais para Ofélia que resolveu construir um castelo de baralho para passar o tempo e tentar vencer a monotonia da solidão. Mal tinha conseguido montar um castelinho de três andares e uma golfada de vento desmanchou sua obra arquitetônica. Assustada, vislumbrou um arlequim saltar para dentro dos seus aposentos. Quem seria aquele ser de saltitante figura?
– Não te assustais, nobre dama. Vim a pedido de um admirador te entregar este bilhete. – o arlequim abre um envelope e lê a mensagem.
–Vós, que sois a mais bela das belas, o entardecer do querer, o porvir da certeza do amor. Vós, que sois a rainha do meu castelo de sonhos. Vós, que me enfeitiçastes com teu sorriso, que me embriagastes com tua candura, me respondais: por que, ó ladra dos meus sentimentos, me ignoras como a um leproso? Eu quero tão somente a tua mão e o teu coração para poder chamá-los de meus.
Assim como entrou, o arlequim saiu furtivamente, deixando o bilhete misturado às cartas do castelo. Ofélia, ainda estupefata, pegou o bilhete para ver a autoria da missiva.
Ao final do texto leu, em letras garrafais: – PEGADINHA DO MALANDRO!