sobre orwell, porcos e igualdade
os porcos ostentam uma simetria entre
suas bocas e cus — rosáceos!
são varas sociedades igualitárias?
alimentam-se e defecam numa mesma
distância do solo — qual rufião poderá
denominar-se ou ser denominado
superior aos seus pares gorduchos?
pois, veja leitor:
napoleão tornara-se déspota devido
ao milagre evolutivo de seu bipedismo
ah, ah! eis a resposta do tolo:
extinto o caminhar em pé e tem-se
a sociedade análoga — o fim do capitalismo
rentista, da miséria distributiva
ah! a beleza do simplório, do reducionismo falho
riam — todos, unidos! — gargalhem da anedota
afinal, a verdade:
a miséria é um projeto de poder
medo da poesia
tem medo da poesia, poeta?
se sua liberdade é poética
por que pisa no chão poroso
da insegurança dos versos?
tem medo de realizar-se, poeta?
sua juventude ainda é mas logo fora
o dia completa seu arco
criou uma poesia que valha
por si? verso que afague ego?
confie em sua poesia, confie
não verse ocasião ou instante
confie na poesia, poeta
dê voz à escuridão que assola
sua existência limitada
e verse, rime, escreva
lance boia que resgata
a confiança na desgastada
e náufraga poesia que vive
que vive, que vive!
rafael mendes foi criado entre são paulo e franco da rocha, entre a cidade o quase interior. reside em dublin desde 2016. em 2017 participou da coletânea “32kg: uma antologia brasil-irlanda” pela editora urutau. também pela editora urutau, em 2018, veio sua primeira coletânea “um ensaio sobre o belo e o caos”, lançado no brasil e europa. em outubro de 2019, participará da antologia “writing home: the new irish poets”, pela dedalus press na irlanda. seus poemas já foram publicados pela revista ruído manifesto e revista gueto, além de rádios e saraus na irlanda.
email: rafaelmendes341@gmail.com
Bom, muito bom.