Jornalista nascida em Pernambuco, Manuella Bezerra de Melo foi repórter, especializou-se em Literatura Brasileira e Interculturalidade. É poeta, cronista de rede social e autora infanto-juvenis. Quando viveu nas Serras de Córdoba, na Argentina, publicou sua primeira obra, Desanônima (Autografia, 2017). Já em Portugal, publicou Existem Sonhos na Rua Amarela (Multifoco, 2018) e Pés pequenos pra tanto corpo (Urutau, 2019) e participou da antologia Pedaladas Poéticas (Aquarela Brasileira, 2017). Mora em Guimarães e dedica-se a um mestrado em Teoria da Literatura na Uminho.
Mil cores colores tu
na sequência de montanhas
degrade grande pequenas pedras
do meu delírio apoteótico
Vi raposa e lebre na trilha
sendo alegoria na paisagem
até fugirem ao terremoto
que pôs em colapso a terra
Glória, mil glórias!
glorifiquei o privilegio
da posição astral de meus olhos
que viu as maiores coisas do mundo
***
Tua voz era meu desatino
pensei enquanto juntava
os pares de meia do varal;
essa com essa, essa com essa
azul azul, branco branco
– Passar o café, lavar o cabelo
– Beber água, fumar
descobristes a gaveta entulhada
a poeira debaixo do tapete e todos
os meus defeitos lá escondidos
que fizestes questão de publicizar
contastes quantas roupas não passadas
tinham dentro do armário do meu filho
– Relaxada!
tentas ordenar seus pensamentos
desconexos apunhando sua vassoura
narras tua vida em voz alta
a louça, a louça, a roupa
maquina de lavar, sabão em pó!
és o maior de todos os soldados
eu sou seu organismo de vida
a responsabilidade de um corpo
do lado de fora do seu corpo
o sangue que você me suga
assim eu adelgaço.
***
Língua solta da boca
risca o chão faca afiada
meu próprio inferno
mora em meu corpo
gastura organismo que treme
involuntariamente
onde todo mundo é alguém
e você continua não ser todo
mundo; os outros são somente
onde eu gostaria de morar
pra não ter que morar em mim
Vão me chamar de chato, mas não resisto:
eu contei, TU CONTASTE, ele contou, nós contamos, VÓS CONTASTES, eles contaram.