ave ratita
fruto e refém
das crenças primevas
entre pares
e outros ares
desfia
desejos sonhos delírios
(
na casa
em chão de terra abatida
se amontoam
pela área de serviço
)
vítima e algoz
de (im)própria história
queima
o cimento do tempo
com passos
crentes obrigados medrosos
a andejar
percursos irretornáveis
que o olhar insabente
só
encontra
sente quando
se faz
pretérito
inaparência
entre
cães focinhando sacos
a enganar a fome
carrinhos lotados
de subsistência passam
sobre
pés semicalçados a amassar
um pó preto que vira lama
que vira pó
que vira lama e pó
onde
carnes expostas sem medo
de ridículo ou censura
consomem outras carnes
vísceras
alimentam
o comércio de tudo
de imitações
ninharias
à ladra
dos locutores de ofertas
misturada a estridências musicais
invadindo as portas
os ouvidos
as filas desmedidas
nos passeios atulhados
para pagar apostas e contas
a feiura não
(se) incomoda
o rebanho apartado ignora
indi(li)gente
quem o tange e o desalimenta
e o que provoca o rangido
das rodas do carro que puxa
inconsciente
as cidades
desertos de fome
mal disfarçados
consomem modos e medos
ao natural e
ao léu
nas salas
nos logradouros e domínios
ruminam
indigestões
algias
e regurgitam
solenes
florestas de silêncios imperdoados
Rosana Chrispim (Carandaí/MG/1958), formada em Jornalismo, trabalhou como Produtora Gráfica por quase 30 anos. Participou das Coletâneas Livrespaço (poesia) entre os anos de 1984 a 1990 e foi uma das editoras da Revista Livrespaço, 1992-1993 (Prêmio APCA de 1993). Publicou Semelhanças, 1986; Poética da Essência (plaquete), 1996; Entretempo, 2003; Caderno de Intermitências, 2017 e Contracena (plaquete), 2017. Atualmente vive em São Paulo/SP.
Muito boa poesia engajada, com sentido, expondo, mesmo que de forma lírica, essa desgraceira que nos assola…
Muito obrigada, Roberto Monteiro, por sua leitura e comentário. Abraço poético.