Livro de poemas Itinerário para Puma Punku canibaliza no poema a existência da pós-modernidade brasileira

 

FERNANDO ANDRADE

Jornalista e crítico de literatura

 

O poeta teria a dicção na voz de um tom anasalado, tendendo para o veludo? Algo talvez sussurrante, à meia luz. Ou pelo contrário, sua voz teria a potência de mil megafones, ou de tantos outros microfones amplificados. O que seria hoje uma voz globalizada? Repercutindo o meio e a mensagem pelo planeta adentro, pelo rincão do espaço, tanto geográfico como cibernético. E se o poeta fizesse de sua glosa tanto pauta política, urbana-citadina, quanto menestrel(mente) pedisse auxilio à musas; ao cancioneiro onde cruzam raízes mitos, células rítmicas bem brasileiras. E tudo isso, com certo apreço por uma masculinidade belquioriana remessada e remetida aos grandes levantadores de copo. A bebida não contrai doença, mas sim, literatura.

  Como um tabuleiro de War onde os países viram emblemas de escritores que unem teor etílico e ficção, além de sopesarem os grandes dilemas da humanidade; o poder tanto de uma guerra fria, quanto da máfia siciliana. Fernando Alves Medeiros  em seu livro de poemas Itinerário para Puma Punku, pela editora Urutau, com o prazer da palavra nem tão ébria de intensidade, alcança com poética e sofisticação as relações entre uma subida de fumaça e o espírito de uma cidade como São Paulo, bagunçando referências, forjando poemas através de citações do cancioneiro da MPB.

 O templo aqui é outro, talvez um sítio arqueológico das vibrações do artista enquanto pensador Pós-moderno  da multiplicidade de vivências  e módulos experiências da estrutura cultural de viver sobre tetos, urbes, planetas. Ele é um agitador cultural, não no sentido do panfletário, mas sim, de semiotizar através da massa de versos, informações, estéticas que parecem bailar sob um espectro caleidoscópico. O que portamos da forma do passado?  Da memória podemos dizer que a vida contemporânea é uma pulverização? De afetos cambiantes, de pulsões ora para vida ora para morte. Fernando fez o primeiro livro parabólico, vazando sinais para o espaço sideral. Ali onde a frequência humana ainda é tão esparsa quanto uma página branca.

Please follow and like us:
Be the first to comment

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Social media & sharing icons powered by UltimatelySocial