Escrever para não enlouquecer, esse é o título de um livro recém lançado de Charles Bukowski. Escrever para deixar de enlouquecer bem poderia ser o subtítulo do novo livro da poeta Marina Rima. Neste terceiro volume de uma trilogia dedicada ao esquecimento, sendo que foi iniciada em 2017 com Vênus partida ao meio, seguido por Estaca zero & outros desvios de percurso (2018) e finalizada em 2019 com Toda janela é algum tipo de saída (Editora Penalux), temos uma trindade poética dedicada ao amor e o desamor, a agonia e a superação. Romper dói, e da dor nasceu a poesia confessional, sincera e arrebatadora de Marina Rima.
Ao exorcizar o fim de um relacionamento em versos, a poeta traz à tona o universo da dor, do abandono e da solidão. Impossibilitada de amar quem amava, buscou refúgio nas palavras e através dela compôs uma ode ao sofrimento cotidiano, ao abandono, a impossibilidade.
Seus versos, simples, diretos e cortantes acertam o alvo dos corações que sofrem. Flecham os corações que tiveram coragem de amar, de se entregar por completo e acima de tudo, de arriscar a vida e a sanidade para viver o amor.
Esse não pertencer a lugar algum se faz presente em Aeroporto: “tenho feito escolhas terríveis desde o último verão/ estraguei momentos pensando como seria se estivesse em outro lugar/ e olhando, no alto, os aviões”. A sensação de não pertencer ao lugar em que está se faz clara nos versos que por sua beleza e simplicidade tocam no peito daqueles que sentem o mesmo. Daqueles que sofrem pela impossibilidade de estar onde desejam e sentem não fazer parto do lugar que ocupam. Sentimentos esses caros para aqueles a quem amou e também para quem se feriu (foi ferido).
A ausência é o tom sombrio de Contramão: “você não é/ quem não diz/ porque a mim não diz nada/ adivinho por onde você anda/ tento adivinhar seu último estado/ me confundo a realidade/ adivinho o seu sonho/ sonho adivinhar”. O poema versa pelo desejo de contato, de saber onde quem se ama está. À noite, companheira indesejada dos que sofrem o amor, se faz parceira das divagações que vem a contragosto. Traz na sua escuridão a lembrança do antes e se faz arquiteta da memória. A “contramão” do esquecimento.
Entre sofrimentos e promessas de recomeços, Toda janela é algum tipo de saída nos leva pelos caminhos do desamor e da superação. Refletimos, através da poesia de Marina Rima e somos testemunhas/personagens de seus versos. Estamos em cada verso pois em algum momento da vida fomos, ou somos o que a poeta retrata através das palavras.
Ler Toda janela é algum tipo de saída é rumar ao conhecido. E por ser uma leitura dolorosa, nos faz ver que não estamos sozinhos no sofrimento, pois o amor nada mais é, que um preludio da dor.
Marcelo Frota é professor, escritor e poeta. Apaixonado por música, literatura e cinema. É coautor de Compilação Poética das Margens e autor de O Sul de Lugar Nenhum, lançado em 2019 pela Editora Penalux.
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