Três poemas de Carlos Dala Stella

Carla Dala Stella 1024x683 - Três poemas de Carlos Dala Stella

Crédito da foto: Cristovão Tezza

 

O BEIJO

ao encontro dos lábios ainda secos
antes que a língua aflore à boca
do outro e comece a mútua devoração

antes que a circunvolução das línguas
misture as salivas e lamba as mucosas
e limem-se os brancos caninos

muito antes que a sucção das ventosas
esprema a flor d’água entre as pernas
num espasmo de núbil desejo

na margem do primeiro segundo
quando o encontro das almas
ainda não conflui os cardumes

já o destino selou as sete quedas
da paixão desmedida e não há mais
como conter os estragos do amor

 

 

OSTRA BÊBADA

de uma ponta a outra da fenda
a viscosidade oleosa mela
as franjas da ostra bêbada
melam-se os dedos na baba
quente e salgada, lesma-se
a língua de contentamento
e suga tão anelante e cernida
que mais fundo se mergulha
maior o gozo do estrangulamento

 

 

LÍNGUAS DA LUXÚRIA

quando tomo sol à tarde
no pátio do ateliê, pelado
a Grécia toma sol comigo
a Ática, o Peloponeso

e quem há de negar esse prazer
pagão do sol lambendo as coxas
o baixo ventre, as nádegas?
são mil as línguas da luxúria

quando deito na espreguiçadeira
ocioso e nu sob o sol
ninfas deitam comigo e efebos
de toda a Hélade e do mar Egeu

 

 

Carlos Dala Stella é poeta-pintor. Autor de Bicicletas de Montreal,  desenhos e fotografias, pela Imprensa Oficial do Pr,  e A Arte Muda da Fuga, poemas, pela Editora Positivo.  Finalista do Jabuti na categoria ilustração em 2012.
Please follow and like us:
Be the first to comment

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Social media & sharing icons powered by UltimatelySocial