Crédito da foto: Cristovão Tezza
O BEIJO
ao encontro dos lábios ainda secos
antes que a língua aflore à boca
do outro e comece a mútua devoração
antes que a circunvolução das línguas
misture as salivas e lamba as mucosas
e limem-se os brancos caninos
muito antes que a sucção das ventosas
esprema a flor d’água entre as pernas
num espasmo de núbil desejo
na margem do primeiro segundo
quando o encontro das almas
ainda não conflui os cardumes
já o destino selou as sete quedas
da paixão desmedida e não há mais
como conter os estragos do amor
OSTRA BÊBADA
de uma ponta a outra da fenda
a viscosidade oleosa mela
as franjas da ostra bêbada
melam-se os dedos na baba
quente e salgada, lesma-se
a língua de contentamento
e suga tão anelante e cernida
que mais fundo se mergulha
maior o gozo do estrangulamento
LÍNGUAS DA LUXÚRIA
quando tomo sol à tarde
no pátio do ateliê, pelado
a Grécia toma sol comigo
a Ática, o Peloponeso
e quem há de negar esse prazer
pagão do sol lambendo as coxas
o baixo ventre, as nádegas?
são mil as línguas da luxúria
quando deito na espreguiçadeira
ocioso e nu sob o sol
ninfas deitam comigo e efebos
de toda a Hélade e do mar Egeu
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