RESENHA | Livro híbrido de textos poéticos e narrativos brinca com a própria arte de criar palimpsestos das palavras – por Fernando Andrade

RUY PROENÇA 778x1024 - RESENHA | Livro híbrido de textos poéticos e narrativos brinca com a própria arte de criar palimpsestos das palavras - por Fernando Andrade

Fernando Andrade

crítico literário e jornalista

 

Leitor se você recebesse uma carta de um autor, mas não, carta-remetente com endereço.
Um texto descritivo ou até narrativo. Uma carta/baralho, mas sem buraco nem fechadura. Uma carta semiótica, onde sua iconografia seria seu desenho impresso na carta, um pedaço de trecho de história onde a sucessão dela se daria pelo colocar tanto aleatório, tanto não, com uma ordem da lógica do desejo. Uma história bosque pelos arredores da ficção que daria eco ou repetição ou medo à quem fosse ouví-la. Agora pense que o poeta Ruy Proença transportou esta figuração de imagens, para seu novo livro de… aqui caímos no buraco da fechadura do sentido do Monstruário de fomes, editora Patuá.

Ruy montou um livro proeza que farei um brincadeira com prosa, pois gesta na prosa todo um trabalho com a palavra na engenharia da ourivesaria poética. Seus textos são quase redondos e circulares onde o sentido brinca com o andamento que o poeta dá através dos caminhos e percalços que as frases vão tomando. É como se tudo começasse do trabalho infinitesimal do instante da frase poética. Aqui com as palavras que progridem e desdobram em enredo do próprio esperar-se do jogo lúdico textual.

Um exemplo cabível seria dizer que seus poemas se parecem como uma fotografia que tivesse bordas de encaixe, como um quebra-cabeças. Um palavra sonora repercute ali num certo sentido já visto e ouvido no texto. Ruy consegue com isto potencializar inúmeros enredos, ora burlescos, ora absurdos, onde a dinâmica do texto-história é também sua forma de narrar. O sentido é o devir-carta, aquela carta imagem que deporá o sentido por cima da anterior. Com isso criou uma espécie de texto combinatório, onde as combinações podem ser infinitas.

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