Poesia é fluxo, é movimento. Verbos e adjetivos e substantivos que unidos, em versos, movem sentimentos. É o canto do poeta, a beleza do cotidiano, do tempo presente. A poesia é o retrato do tempo em que é escrita e pelo tempo ser contínuo, imparável, faz dela a visão de mundo não apenas do poeta, mas daqueles que são tocados pelos versos.
Poesia é fluxo e a poesia de Josy Santos é movimento, aceleração, um contínuo fugaz de sentimentos que aceleram olhos e corações. Em seu novo livro, Sobre Versos e Lírios (Penalux, 2019), a poeta baiana traz versos que expõem de forma singela e bela aspectos que são partes diárias da vida humana, a morte, a vida, o fazer poético, a liberdade, o medo, entre outras temáticas que perpassam a obra a tornando um grito poético doloroso, e ainda assim esperançoso e sensível.
Essa beleza que envolve a morte se faz presente no poema Rompimento: “Quando eu sair daqui não quero levar nada/Me basta a rotação,/Me basta o movimento déspota/Não quero indolor,/enceno um peito ferido.” A partida definitiva se faz convidativa, natural, parte indissociável de vida. Em desapego a poeta parte rumo ao desconhecido e encara a jornada vindoura de forma cálida, desapegada a seu eu físico, pronta para a eternidade. Nada resta aqui, além da decomposição.
O fazer poético se faz presente em Ela: “Canta a moça da janela/É ela, a moça dos poetas/Não tem luz, não tem cor/Sua voz é díssona/Seu cabelo é penugem/Feia/É a moça do poeta,”. Inspiração, homenagem, retrato de uma vida sofrida. Quais são os mistérios por trás da moça da janela. Musa anônima, musa familiar, não sabemos.
Sabemos somente que o retrato em versos da poeta nos traz aos olhos a vida sofrida de uma mulher que apesar da dor, ainda canta, ainda vive, ainda navega. Quem será a moça da janela? Tantas são as moças, as mulher, que vivem a dor dos dias e o vazio das noites. A moça da janela não precisa de nome, pois são dela todos os nomes.
Em Nina, somos tomados pela inocência, pelo sonho: “Olhos de luz que amansam e dão paz/Olhos de menina/Quebrinca de salto/E reverencia rosas.” Nina é menina pura, donzela que busca seu príncipe, que ao contrário da moça da janela, se permite sonhar a vida envolta em beleza, em fantasias. Nina tem futuro, possibilidade de ser o que sonhar, retrato de poucos no Brasil acima de todos, Deus acima de tudo.
Destes contrastes é feita a poesia de Josy Santos, e embarcar em sua jornada poética é uma experiência que eleva a alma e nos mostra a beleza e o horror do cotidiano. Uma jornada veloz, cortante e arrebatadora. É disso que é feita a boa poesia. Um carrossel de emoções que se sente na pele, que se move em velocidade alucinante, arrebatando o leitor a cada verso.
Marcelo Frota é professor, escritor e poeta. Apaixonado por música, literatura e cinema. É coautor de Compilação Poética das Margens e autor de O Sul de Lugar Nenhum, lançado em 2019 pela Editora Penalux.
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