Se fosse possível fotografar o personagem Benjamim Button, do filme, aquele que rejuvenesce para morrer criança com 90 e tantos anos de idade. Uma foto onde a marca da pele é tão nítida quanto a revelação da fotografia. Onde não há crostas, rugas e excesso de vida. A revelação, ao mesmo tempo, do personagem e da foto seria desinventar-se. Morrer nas origens. Carregamos a bagagem da experiência, mas a foto não a eterniza. Ela carrega somente momentos. Mas se a literatura de viagem ou de experiência sobre deslocamentos físicos e espirituais; ela sai do plano fixo da foto, pois todo texto que se desloca para falar sobre estados do corpo em movimento traz em sim algum germe da projeção do olho-cine-Vertov; aquele que corta e costura uma ação em transcurso.
Como a transposição que Caroline Policarpo Veloso, em Cartografia do Silêncio, ( editora Patuá) faz de um percurso sobre certas margens, uso constante de fronteiras como um mapa cartográfico – e como elas botam o pé na transição entre areia e mar, cruzam este limite onde ser ou não ser parece se traduzível em outras línguas. H20 para oxigênio. Para usar uma imagem simples “ estou me afogando neste copo cheio d’água”.
A escrita de Caroline Policarpo passeia poeticamente pelo relato de viagem, pelo uso não localizável dos mapas, no seu entorno poético, aspectos geológicos abrem fendas e espaços-vazios ao nada.
Não há porém espaços para bio-invenções da poeta no lugar tracejado pela escrita. Ela se reinventa como criação e personagem, alternando o espaço entre lugar e memória, para isso cria lindos intertextos e localização geográfica, Wislawa Zysmborka é uma que aparece na platitude de um mapa que se quer camafeu de um lindo palimpsesto.
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