Me convidem para a revolução…

ADRIANO SPINDOLA - Me convidem para a revolução...

 

Texto de  Adriano B. Espíndola Santos

Me convidem para a revolução. Se souberem das articulações, dos movimentos mais finos; dos sinais de fumaça, ainda que escassos, fugidios, não se esqueçam de mim. Aliás, não só me convidem, mas me convoquem, com mandado e tudo; não possa cogitar titubear – sou ser humano, falível; incauto, por vezes. Convocar, aí, é exortar à liberdade. Olhar para trás, despertar as raízes, os sentidos de permanência e de resignação – essa palavra horrível, dolorosa, que obriga a aceitar, rechaçar o próprio espírito livre -, é, de fato, detestável não poder se rebelar contra o status quo, montado por eles.

Não, não. Tenho brios de homem engajado, consciente.
Há os que flanam no mar da iniquidade, agora legitimados pelo inominável; os mesmos que alimentam um mendigo com um pão seco e acham que fizeram a caridade do mês ou do ano. Esses não nos permitem dormir. Retroalimentados pelo sistema, desde as capitanias hereditárias e da distribuição de títulos nobiliários, a torto e a direito, para garantir a “unidade e a governabilidade” – termos típicos de porcos fascistas, usados para deturpar e para usurpar o poder -, sentem-se inflados e tranquilos com a blindagem conferida pelos seus poderios econômico e social, que acumularam por anos, a muito custo de suor alheio.

Fato, como todo organismo em pressão, a convulsão aponta no horizonte.
Vídeos, pesquisas científicas e dados públicos revelam a divisão abissal, escancarada,
de classes no Brasil, quando, por exemplo, dizem que não suportam coexistir num aeroporto com “gentinha”; não aguentam ver a filha da empregada tirar primeiro lugar em medicina e o filho não; não toleram, e são capazes de agressão ou de morte, por acaso, se forem chamados de “Seu fulano”, sem a alcunha de doutor – resquício, e prova, do breu da era imperial.

A classe média esperneia, não mais à socapa, pela manutenção de privilégios, pelo
banimento do diferente e pela supressão de direitos dos pobres, para, nitidamente, enfraquecê- los e eliminá-los. Tenho isso muito bem definido em mim, hoje. Quanto tempo levei para perceber? E por quanto tempo me senti pequeno, deslocado, sem chão nem par? Não mais.

Por favor, insisto, não quero ser um covarde na história. Não quero vir a envelhecer
louco ou arrependido. Seria meu maior desgosto, ao cabo de tudo, deparar-me com o desleixo da comodidade, com a falta de ânimo para fazer valer os nossos direitos. Não posso, por qualquer pretexto, passar ileso. Não se nasce em vão. Não se vive em vão.

O que direi à minha pequena Maria se ela me perguntar: “Por que você não fez nada?” 
Ah, respondo com franqueza, seria a pior morte. Não sou covarde, definitivamente; e não sou masoquista para acompanhar de camarote, dia após dia, o povo definhando, com migalhas e estorvos. Mesmo que isso não me afete em alguma medida, tenho compromissos; e nunca, jamais, estarei ao lado do deus-dinheiro, o maldito capital. Meu deus é o amor.

Boaventura anunciou – estremeçam, canalhas! -, a convulsão avulta; e a vida não tardará a rebentar do caos.

 

Adriano B. Espíndola Santos. Natural de Fortaleza, Ceará. Autor do livro Flor no
caos, pela Desconcertos Editora, 2018. Advogado humanista. Mestre em Direito. É dor e amor; e o que puder ser para se sentir vivo: o coração inquieto.

 

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This Article Has 1 Comment
  1. Roberto Monteiro Reply

    É um convite. Vamos à luta???

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