A palavra literal guarda muitos segredos.
Escrever como o coração sente. Aqui faço uma metáfora, não sou literal, pois parto do figurativo para descrever uma sensação de como escrevo, intuito que meu coração tenha alguns dotes para narrar tudo que se passa no meu interior poético. Quando se quer ser literal, não necessariamente passamos recado ou recibo, passamos ao simbólico! Pode-se ter nuances, dobras, silêncios, num conto que escreva algo que percorre da rotina de nosso ser, indagações no dia, nossa temperatura-temperamento-temperança, fatos do pé de mesa e do pé do ouvido. É ao contrário de encher um texto de apenas imagens que substituam a relação entre ocorrências (relatos?) e seus significados.
Quando li o livro de contos poéticos da Letícia Palmeira, Mostruário persa, Editora Penalux, vi que a poeta usa imagens não como mote. Ela desliza sensações de uma tapeçaria de afetos sobre o ato da escrita, e privilegia (a linguagem) ao tornear o andamento do texto, cheios de intensidades de pés velozes ao não parar o sentido literal que anda e movimenta o texto em dança, que o leitor lê e compreende.Cantigas me lembram também cavalos no trote. Suas imagens não trocam por comparação, como uma substituição, do fato por uma analogia imagética visual(ista).
A relação da imagem é pertencida ao processo imanente de sua escrita-linguagem. Por isso que digo que a sua escrita abarca o literal. As associações são musicais e fluidas, pegam seu trote – um tipo de caminhar poético que já havia encontrado em outros textos da autora e fazem uma dobradura como se fosse uma costura por dentro entre a parte significante e o seu significado; o deslizamento é deliciosamente musical, algo como se a poeta estabelecesse um trabalho mimético sobre notas musicais, seus compassos, as (de)cifras que cada melodia ou célula rítmica pode ou deve se associar à palavra cantada, conversada ( com seu leitor).
Fernando,
Muito obrigada pela leitura e crítica atentas do Mostruário Persa.
Abraços.
Quando eu vejo os sommeliers degustando um vinho e olhando para cima dizem: notas frutadas com toque amadeirado… eu imagino o poder degustativo desta gente…