Reportar uma ação como um observador in loco, descrevendo ou acionando eventos dramáticos. Aqui não ajo como personagem narrando um transcurso de uma ação. Sou um repórter; transmito a mensagem é o meio. Logo o repórter é o meio físico por qual a dramaticidade do fato se passa ao telespectador. Agora vou ao vale do aço, e moro lá por determinado tempo. Não sou um cronista dos fatos. Misturo-me as pessoas, escondo-me das notícias. Posso até dizer que estou camuflado ao ambiente. Ninguém me vê, como um agente de notícias. Portanto quando precisar memorializar minha história serei uma pessoa, meu relato puro e simples. Mas também sou o personagem do enredo que proclamo como não meu, mas de um contexto social, que por morar lá no vale do aço como professora de história, (aqui o grau de empatia entre gêneros). Aqui não há grau de referencialidade nenhuma, a história é uma narração pura e simples. São águas passadas debaixo desta ponte do tempo, é o que a psicanálise diz de nossas memórias pessoais misturadas à ideia do coletivo. Como um grupo de pessoas que trabalham para a usina do aço no interior de Minas Gerais.
Distancio-me deste relato, não faço parte dele, porém me vi muito envolvido, pelo traço da linguagem, pela personagem dual entre fragilidade e força. Sou um mero observador das páginas perpassadas com o dedo, de uma leitura atenta ao desnovelo de uma vida entre memória e ficção. Estou virando apenas crítico de livros. Faço de mim isenção jornalística para olhar com “distanciamento” o que Betzaida Mata relata no seu livro Diário do aço, editora Penalux, com minúcia entre uma biográfica permanência dela pelo vale do aço como professora de história; seus relacionamentos com Jonas, “um mergulhador de baleias”. Sua mímese com o meio, seu olhar crítico e identitário com a massa de obra para pouca valia, (sic) com a brutalidade do poder econômico da mineração e produção de aço.
Interessante notar que escrita da autora oscile e navegue pela alternância da voz do relato de eventos dela – acontecimentos factuais com a bela narração ficcional criando uma tessitura entre arte-ficção e memorialismo. A história não deve carregar vítimas, por mais violentas e sangrentas que devam ser , pelo menos para quem narra. Betzaida se posiciona com a centralidade de uma guerreira, que tem seus pontos fracos, mas sabe do seu lugar de voz como narradora do relato, que sua transmissão é puramente dialética entre sínteses e antíteses. Como a história o é.
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