Fernando Andrade
Jornalista e crítico literário
Há um q de ciência nos contos, Interfaces, do escritor André Mellagi, mas não dê conta de descobrir hipóteses que mirem numa tese certa ou coerente em sua narrativas. Nenhuma ação que se desloque pelo percurso mais louco vai dar em um caminho único. Muito pelo contrário, André, assim, como no Castelo dos destinos cruzados, do Calvino, lida a ficção como trilha sempre nas bifurcações do sentido e seus significados. É como caminhar, despropositadamente, e achar uma nota de 100 dólares. O que você vai fazer com ela? Já não é o barato da coisa.
Simplesmente a fortuidade do acaso dos dados sendo balançados a seu favor.
O escritor parte de roteiros que nunca são binários, pois não poderiam abrir à sugestão da ficção “desnorteada” cito o conto Interface, com suas transversalidades. Ruas dentro de ruas. Por isso digo que ele tem um talento e tanto em aparelhar suas semiologias na semântica do enredo, como forma de ação do drama ou da comicidade – ter níveis de lastros pelo entorno ficcional do devir enquanto probabilidade matemática combinatória. Com isso André mexe na própria especificação da linguagem escrita, numa escrita vazada não só pela conotação de uma psicologia que deriva de tipos de comportamentos que podem parecer sequenciados, mas que na veia do autor, adquirem uma certa improbabilidade do acaso.
O conto Sala de jantar toda a sequência de ação é “suspensa” na sua legibilidade descritiva de contar algo mais do que o silêncio, mas o sentido está la no espaço das entrelinhas. Porquê? No jogo combinatório entra casualmente uma certa atração pelo feixe que combine com aquela certo traço de lógica do trajeto feito não pelo esforço de um delírio, mas sim pela potência de um devir coerente.
Na interface entre leitor e autor, está uma escrita fractal, e até ambulante e andarilha, pois nela há um movimento entre o correr das frases o que devirá no espaço lacunar do texto. Não diria que André faça linhas associativas como um labor da psicanálise entre personagens que tracejam os espaços urbanos, com seus finais ou desfechos onde toda polissemia do texto se jogará pela cortina deste tablado feito um teatro do absurdo da vida.
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