O minimalismo das palavras na construção dos versos de Coisas Mínimas, de Mauricio Requião / por Marcelo Frota

 

COISAS MINIMAS FOTO LIVRO - O minimalismo das palavras na construção dos versos de Coisas Mínimas, de Mauricio Requião / por Marcelo Frota

 

A arte minimalista tem o poder de produzir grande impacto com o mínimo de imagens.
Tais imagens, como as do artista plástico Donald Judd apoiam-se na redução da forma artística, a um elemento geométrico conciso ou “mínimo”, que se usa como artifício para expressar a beleza das pequenas coisas. Essa não grandiosidade produz ressonância através da contemplação e, por usar poucos elementos como forma de expressão, envolve o espectador em suas camadas de significados e representações.

O minimalismo veio-me à mente ao ler Coisas Mínimas (Editora Penalux, 2019), livro de poemas de Mauricio Requião, que a meu ver, compõem, sem usar de formas geométricas, mas lapidando palavras em versos, assim como se faz com os diamantes, algo que podemos chamar de poesia minimalista.

Composto por poemas curtos, mas grandes em significados, o poeta usa do mínimo para extrair o máximo de cada verso, trazendo à tona elementos do cotidiano, assim como aspirações, angustias, sonhos perdidos, possibilidades não concretizadas, reunidos em uma montanha russa lírica que torna a obra fluida e hipnotizante.

Coisas Mínimas é um livro de leitura rápida, mas aconselho ao leitor, é para que se demore na leitura, ao final de cada poema, pois a substância de tão curtos versos, vem da reflexão a respeito dos mesmos. Tal reflexão surgiu forte logo no segundo poema do livro: “em pesadelos/eus mortos falam/aos meus ouvidos/sobre os sonhos/que me neguei.”.

À noite, envolta em seu silêncio de horas solitárias revela o fantasma que assombra o poeta. Pesadelos, não necessariamente, acontecem durante o sono. São, muitas vezes, o oposto de “sonhar acordado”. Ter “pesadelos acordado” assusta e oprime mais que qualquer pesadelo durante o sono, pois acordados, temos a dimensão dos nossos erros e medimos com a fita métrica da memória a extensão da nossa covardia.

A exemplo do poema citado acima, toda a poesia de Coisas Mínimas é um convite a reflexão, e a prova de que muito pode ser dito/sentido em poucas linhas, com poucas palavras. E nas poucas palavras, como do poema abaixo, o muito, está no tempo em que as palavras se transformam em significados.

“passem logo, minutos
preciso lamentar
o tempo perdido.”

Uma ode a Coisas Mínimas e a Mauricio Requião por tanto trazer em tão poucas linhas.

 

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This Article Has 1 Comment
  1. Roberto Monteiro Reply

    É… pela pequena amostra grátis, já deu pra ver do que é capaz a pena do rapaz… perdoem-me… não resisto a uma rima fácil…

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