Fernando Andrade/Jornalista e crítico de literatura
Seriam os estilos literários os galhos de uma imensa árvore que cruza espaços e fronteiras pela interzona da escrita? E pé ante pé, o escritor toca como um atabaque, som e ritmo, sentido pelas passagens de gêneros. Lembro de um romance do Italo Calvino que um personagem resolve não botar mais o pés no chão como desobediência familiar. Tratava-se de um barão e estava-se em plena época da revolução Francesa ou próximo. Na altura daqueles galhos, ele adquiria alguns dos próprios princípios que o autor depois falaria no seu Seis propostas para o próximo milênio, consistência, leveza, e que serve de metáfora ao nosso personagem barão, que faz da leitura no caso da sua família e por tabela do mundo.
Esta espécie de metodologia do olhar, encontramos também em bons livros de contos, onde não só o conteúdo, mas também a forma de contar parece que se suspende sobre o chão como visão ou apuro do entorno. Do chão, se acredita não vermos o bastante para saber como narrar? Estamos todos na mesma barafunda do contado espremido, uns com outros. O juízo se perde pelo atropelo da palavra apressada. É a pressa da pós-modernidade ou estado exageradamente líquido das relações sociais-afetivas.
O escritor Flávio Ulhoa Coelho em seu novo livro de contos, Outros tantos, editora Penalux, esquadrinhou dentro daquele mesmo universo temático do mestre italiano do próximo milênio, qualidades ou temperamentos onde o conto tem certa posição elevada para transitar entre a bagunça do mundo contemporâneo. Cada seção como Leveza, Rapidez, Multiplicidade, criam matizes entre o que se conta a narrativa-enredo, e o olhar atento sobre tal qualidade. Flavio é um artesão da palavra. Saber usar e dosar a relação entre sentido e estética fazendo quase uma paleta cromática da usual significação dos motes que transitam por entre os personagens perdidos, ou desejosos de contato do corpo ou tato humano.
São histórias da comédia humana com seus acertos e erros, mediados sempre pelo humor que até parece semelhante com o mestre italiano; uma posição que Calvino sabia usar e dosar como poucos, um leve distanciamento crítico e afetuoso das cenas humanas ou de seus autores modernos, pois na cena do passado, o autor atualizava questões muito pertinentes no presente. Esta relação mediada pela distância ou proximidade do objeto de estudo, ou desejo, também percebi em Coelho, como uma dança de acasalamento, que poderia também funcionar para o leitor e seu livro-objeto. Por falar em livro objeto, a ideia esta quase peça de fuga ( ela a ideia) segundo o autor parece ser a melhor imagem do que um autor de hoje parece perseguir no que chamamos de literatura Pós-moderna. Ela foge como uma grande
barata…
The great ideia
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