Romance “Vertigem do chão” dimensiona através do corpo uma relação espacial fonteiriça da pulsão ao outro( lugar) – por Fernando Andrade

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Fernando Andrade/jornalista e crítico de literatura

O corpo, jogo no ar. Solto, sem amarras, sem lastro, não ser sua potência elástica de
distensão no espaço. Agora, um corpo no avião, já temos uma marcação, um filtro onde notamos: embarque, viagem, algum tipo de fronteira que persegue este corpo, pois esta dança dentro de tensões, tendões, a elasticidade dos músculos, a acuidade dos óculos, angulares que potencializam perto \ longe, relações de lugar e ermo, país e exílio. Pertencer não é só estar em casa. E sim buscar a língua estrangeira, uma linguagem corporal universal; mesmo que cada lugar tenha sua postura corporal, sua tradição cultural pelo pulsar – corpo.

Girar no chão significa esquadrinhar relações de alteridade espacial, ou então, ter um estilo de vertigem do chão; domar o corpo à gravidade do magma da terra. A dança é um ajuntamento de contatos? O toque em alguns dos casos de dança pareada. Outros  dançam no entorno à procura do prolongamento do gesto. É nesta distensão entre contato e  a unidade singular [corpo]  que o romance Vertigem do chão, Cezar Tridapalli. editora Moinhos, acontece.

Estefan vai a Curitiba trabalhar numa academia, mas também experimentar o corpo como outridade. Enquanto Leonel, curitibano, também negro, viaja à uma cidade holandesa para encenar uma coreografia chamada dEUs, unidade teatral anímica. Parte do que se deixa para atrás, busca-se o movimento da interação musical-organismo. O movimento de imigração, onde árabes circulam pela cidade, se orientam numa dinâmica de uma contradança, espécie de esquiva do movimento circular de nuclearizar-se em notas únicas.

Cezar, o autor do livro, espreme uma linguagem derivativa, onde as cenas da distância entre Curitiba e Holanda parecem que se aglutinam em cenários entrópicos, em ações simbióticas, mesmo na produção textual da ação contingente. A leitura requer atenção, pois os cortes são quase fraseados poéticos onde o espaço abre-se para fronteiras geopolíticas identitárias.
Ginástica e dança estabelecem uma linguagem entre coletivo e solo. dEUs poderia ser ao mesmo tempo feixe-movimento-pensamento-ação, e entidade ontológica onisciente.

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