Livro de poemas “Isto não é um documentário” dialoga criação e teoria sobre o olhar do feitiço da caneta (crítica) cinematográfica

 

Fernando Andrade/ Jornalista e crítico literário

Fico imaginando fulano dizendo ao Sicrano – este sujeito está me criticando. A palavra norma, diz que se está falando mal de alguém, de sua ação ou qualidade. Obedecemos ao mandamento desde a casa, não mostre sua face interna, ou externe suas opiniões com cuidado para não sofrer críticas. Internou-se num sanatório, devido ao espírito crítico dos outros, ficou louco com as resenhas alheias. A tomada de câmera que posicionamos na esquina das relações sociais e políticas. Quando temos um texto outro, saímos de nossa casa-escrita com toda a liberdade criativa?

As ruas são saídas, viadutos e avenidas. Olhar com uma grande angular, o que o crítico deve fazer. O novo livro do poeta e professor Marcos Siscar, Isto não é um documentário, 7letras, o autor faz da imagem, um acolhimento cinematográfico. A casa, diria algum filósofo oriental, é a resenha do aprimoramento da linguagem que suscita.

Cabe num retângulo fechado não binário.

Não se larga palavras à toa num espaço onde a funcionalidade é o lar. Siscar tensiona o arco do pensamento sobre a casa sem nunca distender a força e a direção do voo, aqui digo o trabalho da imaginação visiva quando se tensiona a vocação interna do guardar, (olho-memória). São poemas curtos em formato de prosa poética com uma máxima capacidade visual de leitura.

O poeta promove outros exercícios que tangenciam a lapidação da memória. Em textos que buscam uma imbricação entre o resenhar um filme com suas análises semânticas, e também um processo de making  a movie, quase como lapidar um certo roteiro cinematográfico. O poeta trabalha toda uma gramática do identitário do cinema com espaços, cenários, personagens, citações, onde é praticamente impossível ter a sua base de referencia à leitura anterior. Que filmes o poeta viu ao escrever tais textos? É um espaço de leitura-visão-criação? Cenas-autorias exercitam a função de metamorfosear a própria funcionalidade da sétima-arte, em cada uma de suas especificidades.

 

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